sábado, 21 de junho de 2008

Pretenções da soberba

Deus é o "Sumo Bem, bom e digno de ser amado sobre todas as coisas", nos ensina o Ato de Contrição. Deus é o Ser Absoluto, infinito, perfeito, eterno e imutável, de quem as criaturas receberam a existência, pois Ele é a sua causa eficiente. Todas as criaturas receberam o ser de Deus, e a essência de cada uma delas é o grau de recepção do ser de Deus. As criaturas não possuem a essência divina, pois se assim o fosse, as criaturas seriam o próprio Deus, o que é absurdo. Cairíamos no Panteísmo ou no Gnosticismo, ambos divinizadores das criaturas. Mas, pelo contrário, cada criatura é um ser relativo, que recebe o ser de Deus, uma essência, refletindo o Ser Absoluto.
Alguns incautos gostam de comparar Deus ao oceano, dizendo que cada criatura é como se fosse uma gota d'água da imensidão do mar. Esse exemplo é enganador. Tanto a água da gota quanto a água do ocenao possuem a mesma essência; afinal, é água de qualquer forma, independente da quantia. Somente a Gnose antiga admitia que a matéria possuía "éons" ou partículas da divindade aprisionadas nela. O homem não é uma gota do oceano divino. Ele possui uma essência dada por Deus, que é a natureza de cada ser. Cada ser é o que nasceu, e a sua natureza é sua a forma ou essência - aquilo que cada ser é, a forma como Deus concebeu cada ser -, uma idéia divina que foi manifestada pela Criação. Os seres, portanto, são análogos a Deus, já que refletem o ser de Deus, mas não compartilham, de modo algum, a essência divina. As criaturas são seres contingentes, enquanto Deus é o Ser Absoluto e necessário.
Contra este Ser revoltou-se Lúcifer, recusando-se a servi-Lo e amá-Lo, por orgulho. Lúcifer não aceitou ser criatura, e quis ser como Deus. Ninguém é como Deus, pois Deus é Um só. Lúcifer cometeu um ato de irracionalidade ao querer ser como Deus, o que é impossível. Também pecou contra a razão quando não quis servir a Deus, já que a razão reconhece que Deus merece adoração e servidão, como nos diz o Ato de Contrição. A infinita justiça divina puniu Lúcifer com o inferno, ficando longe desse Ser pela eternidade, privado de sua presença.
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Da mesma forma que negou a Verdade, o demônio também ensinou a mentira ao homem. E Adão, acreditando piamente na fantasia e no delírio, sedeu à tentação e perdeu a graça divina que habitava nele. Adão acreditou na mentira de que ele também podia ser Deus, e que estava sendo enganado por um falso Deus, que queria retê-lo na contingência, enquanto Lúcifer era a verdadeira divindade, já que traria libertação ao atual estado de Adão. Adão acreditou que podia evoluir até se tornar Deus, por meio de um conhecimento infinito e absoluto que o divinizaria.
Assim como Lúcifer e seus anjos foram expulsos do Paraíso celeste, Adão foi expulso do paraíso terrestre. Com a queda do primeiro homem, o pecado entrou no mundo e corrompeu a carne. Todos nasceriam sob as consequências do pecado original, privados da graça e da imortalidade do corpo, suscetíveis a males físicos e morais, sendo o pior de todos os males não a morte do corpo, mas a morte da alma, privada de Deus pelo abismo que o pecado lançou entre Deus e o homem.
Deus, em sua misericórdia infinita, dá ao homem a Redenção por meio do Sacrifício do Seu Filho, oferecendo à humanidade decadente a possibilidade da Salvação. E a Igreja católica é a dispensadora dos Méritos de Cristo, fundada pelo próprio Jesus, aonde os homens se unem, na caridade, com o próprio Deus por meio da graça santificante.
Mas se Deus não descançou em ensinar a sua Verdade salvífica aos homens, também continou o demônio, movido por ódio, a propagar a mentira da qual é pai.
Se de um lado da História estão os filhos de Deus, que reconhecem que só Deus é Absoluto, Senhor e dominador de tudo, a quem todos devem render glória e servir com a própria vida; do outro, aqueles que são filhos do demônio, seguidores de sua mentira, inconformados com a criação divina, pois desejam ser o próprio Deus, e como não o podem, ensinam a mentira, a fim de que os homens percam a salvação e fiquem privados de Deus eternamente.
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Ora, diz a Filosofia que todos os homens desejam saber. O conhecimento da Verdade e do Bem é um desejo natural dos homens, desejo este que só é plenamente saciado quando a alma humana encontra Deus, a Verdade e o Bem Absoluto.
Mas se os homens desejam conhecer o que é a Verdade e aonde ela está, com isso confessam que não possuem a Verdade, mas que a procuram pela razão. Ao olhar para si, o homem vê que seu intelecto é incapaz de compreender a totalidade da existência. Reconhecendo a própria limitação, o homem busca aquele que é o Ser em grau Absoluto, a quem ele deve servidão, já que um ser tão limitado não poderia ter gerado o mundo, muito menos originado a própria existência. Assim, ele busca conhecer Deus.
Mas se nem mesmo o mundo pode ser conhecido integralmente, como poderá o homem conhecer Deus? O intelecto humano é incapaz de conhecer Deus enquanto tal; mas - ensina Santo Tomás -, ainda assim podemos conhecer Deus em certo aspecto.
Um aluno de matemática que não consegue resolver um problema sabe, mesmo assim, que ele tem solução. Ele sabe que há solução, ainda que ele desconheça, e só conheça o problema, e não consiga ir além dele. Do mesmo modo, todos os homens podem conhecer Deus na terra, por via racional, e contemplá-Lo na eternidade, ainda que não possa ver Deus absolutamente, o que é impossível para a natureza humana ou para qualquer natureza.
Conhecer Deus enquanto tal é impossível, pois Deus é infinito e absoluto, e a razão humana é finita e relativa; mas pode-se conhecer Deus em certo aspecto, assim como pode-se conhecer o mundo em certo grau, ainda que a essência última de todas as coisas seja desconhecida para os homens. Já dizia Santo Tomás: "nenhum filósofo até hoje foi capaz de abarcar sequer a essência de uma mosca". Ora, qual a razão disso?
As coisas são cognoscíveis - passíveis de serem conhecidas - porque foram criadas por Deus, ou seja, foram pensadas por Deus em sua Sabedoria, e por isso podem ser conhecidas porque são inteligíveis. Mas, justamente por terem sido pensadas por Deus, cuja Sabedoria é infinita, não podemos conhecê-las absolutamente. Daí surge a teologia negativa de Tomás e de tantos outros: é mais fácil dizer o que Deus não é do que o que ele é. Conhecemos as coisas sob certo aspecto, mas o conhecimento absoluto do mundo ou do próprio Absoluto - Deus - é impossível.
Se o homem procura a Verdade, é porque sabe-se limitado. É um ato de humildade, pois a humildade é "o verdadeiro conhecimento de si mesmo". Aquele que se reconhece limitado, busca, por razões óbvias, aquele que é ilimitado. Por isso Adão conhecia as coisas: porque via nelas o reflexo do Deus que a sua razão clamava por encontrar.
A mentira ensinada pelo demônio fez com que o homem negasse a própria razão. Se a sua razão reconhecia a limitação do homem, o demônio, porém, fez-lhe crer que o contrário era verdadeiro: todo o homem pode ser Deus. Todo o homem é Deus, mas um Deus decaído na contingência da matéria, que precisa negar o que é para passar a ser o que não é. Todo o homem precisa negar que é homem e acreditar que é Deus. Então a razão mente; a matéria, limita; a moral, controla, e impede que o homem liberte-se do seu exílio.
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A mesma mentira contada a Adão, continua o demônio a contar a todos os homens. Se Deus fez o homem com um desejo natural em conhecer as coisas, o demônio usou dessa qualidade para desviar o homem do reto caminho, ensinando o erro, para que ele o abraçasse como se fosse a própria Verdade.
Se na Antigüidade o esoterismo era praticado por poucos - uma elite de sacerdotes, filósofos e reis -, hoje, ele aparece em cada esquina, sob as mais diversas formas. Nunca se vendeu tantos livros de "auto-ajuda", esoterismo, misticismo, magia, horóscopo, espiritismo ou budismo. A sede de conhecimento do homem é desviada pela tentação de crer-se divino, auto-suficiente, capaz de realizar os milagres pela simples força de pensamento ou pelo "pensar positivo". Nunca René Descartes foi tão exaltado - apesar de poucos o conhecerem -, já que se "penso, logo, existo", então o pensamento é que gera a existência. É do pensar do homem que a realidade se firma, e não do pensar de Deus. Nunca se ensinou tanto a "auto-redenção" humana. Se de Cristo procede a salvação das almas, para a Modernidade, porém, é do pensar do homem que vem a solução de todos os problemas. A realidade depende do homem; e ele não só a cria pelo poder do pensamento, como também aprende a modificá-la.
A confusão polifônica que resultou da Modernidade é fruto do Protestantismo e do Liberalismo. O Protestantismo fez de cada fiel a sua própria Igreja, sem depender da autoridade. O Liberalismo, quando nega a verdade objetiva, dá a cada sujeito o direito de defender a verdade que bem quiser. Verdade é o que cada um pensa por verdadeiro. Não há nada a ser ensinado. Tudo é Verdade; mas tudo é Mentira. A partir do Liberalismo, a Dialética vai reaparecendo progressivamente na Filosofia. "A Verdade de tudo é que nada é Verdade". O Nada é a Verdade, o Não-Ser. Se não existe o Ser, só existe o devir, o puro fluxo, o eterno tornar-se. E se as coisas estão sempre se tornando - e nunca são -, não há a Verdade ou a Mentira. Verdade é dizer o que as coisas são; mas se os seres não são; então não há verdade. A Verdade é que não há Verdade. Cai-se na Dialética: qualquer coisa pode ser e não-ser; os contrários se equivalem, já que o ser não existe.
Com a liberdade do Liberalismo, todas as heresias passaram a ter direito de propagação, deixando de ser heresias. Hoje, o mundo assiste, calado, às mais grosseiras formas de esoterismo, que se propagam abertamente em toda parte. O mesmo indivíduo que lê horóscopo, assiste a Missa de "Cura e Libertação" da paróquia, faz as "simpatias" de um livro qualquer e frequenta aulas de Yoga. Não há mais compromisso com a verdade, não há coerência de pensamento. Tudo passou a ser válido. O mesmo indivíduo que é católico, também é espírita e agnóstico. Todos podem ser e não-ser. A Religião da Modernidade é a Dialética.
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O demônio ensinou aos homens que eles devem conhecer-se divinos. A proliferação superficial e absurda do esoterismo, hoje, é prova disso. Mas este esoterismo consiste apenas em práticas grosseiras que a população desconhece o significado ou o sentido. Quase ninguém sabe o que é ocultismo, esoterismo ou Gnose. Poucos entendem do que se trata; mas mesmo assim, praticam o que manda os tais manuais de magia branca ou de "simpatias".
Mesmo que o esoterismo tenha adquirido uma versão popular superficial, evidentemente ele é apenas um eco da mesma e única mentira diabólica, que ainda subsiste em grupos mais reservados.
Ora, o povo não seria capaz de compreender o real sentido da Gnose. E, se compreendesse, teria grande repulsa. O terror e o medo que ela causaria levaria à completa destruição das práticas mágicas, que cairiam no esquecimento geral. Por isso, o esoterismo praticado pelo povo é apenas superficial, pois não alcança o seu sentido verdadeiro. São em grupos reservados que ele é compreendido e praticado com pleno entendimento. É nesses grupos que o demônio ensina suas mentiras, atraindo seguidores obsecados por conhecimento e poder.
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Ensina Santo Tomás de Aquino que a soberba é um pecado supra-capital, isto é, está acima dos sete pecados capitais. Hoje, a Igreja classifica a soberba como um dos sete pecados; mas na época de Tomás, era a vaidade que ocupava seu lugar.
Santo Tomás diz que a soberba é a mãe de todos os pecados, pois todos os pecados participam da soberba e dela se originam. Afinal, soberba é a recusa da superioridade de Deus. O soberbo não é humilde, pois o humilde conhece a si próprio e vê a própria limitação, reconhecendo em Deus a causa da existência.
O soberbo não se conforma com a própria condição; quer ser mais do que é, e se recusa a servir a Deus. Por isso, todos os pecados capitais participam da soberba, pois alguém que ama desordenadamente a si próprio tende a cometer os demais pecados. Santo Tomás diz que a soberba é um pecado supra-capital, e que a vaidade é o pecado capital mais próximo da soberba, já que a ostentação de si próprio, a manifestação desordenada da glória pessoal, é a vaidade; e se o soberbo tem amor desordenado a si próprio, ele tende a ser vaidoso.
A soberba é a raiz de todos os pecados. É dela que deriva a Gnose, pois se o soberbo não se admite criatura, a Gnose quer fazê-lo Criador, o próprio Deus. A soberba dos homens quer atingir aquilo que não é, quer ser mais do que é. E o demônio, assim como tentou Eva, tenta agora todos os soberbos, fazendo com que estes creiam-se divinos. A sede natural de conhecimento - própria da natureza humana -, com a soberba, se torna a Gnose, o conhecimento do Absoluto, o tornar-se divino. O soberbo não quer conhecer a verdade para servi-la, mas para que ele possa ser transmutado por ela, tal qual na Alquimia, onde tudo, ao toque da Pedra Filosofal, tornava-se ouro.
As sociedades secretas são o poço aonde caem os soberbos. Elas prometem o conhecimento do divino - a Sabedoria divina, a Schekinah da Cabala. As iniciações perpassam a via de iluminação interior do neófito, onde ele lapida a pedra bruta que é seu coração, e descobre que o fundamento de tudo está nele mesmo. Mas esta iluminação é falsa; afinal, esta luz não é a Luz do Verbo, mas a luz de Lúcifer, luz mentirosa, que quer ser Luz sem Calor, pois não existe a Luz do Verbo - da Verdade - sem o Calor do Amor - sem o Espírito Santo. Não há como ter Deus sem amá-Lo. Lúcifer quis usufruir do bem que é Deus sem amá-lo e sem servi-Lo.
Os soberbos, em busca da satisfação pessoal, se submetem a tudo para conseguir o Conhecimento e o Poder que procuram. Se um soberbo se recusa a servir a Deus, que é Senhor e Dominador de tudo, e por isso mesmo merece a nossa servidão; paradoxalmente ele aceita se submeter até mesmo a outros homens - de natureza igual à dele - para alcançar a sua glorificação. Basta que se veja os rituais de iniciação da Maçonaria. O candidato é humilhado desde cedo, tendo que esperar numa "Câmara de Reflexão" até o início do Ritual. Em seguida, a sua confiança é testada, pois os rituais são feitos com os olhos do candidato vendados. E nos juramentos, ele confirma desejar até mesmo que sua cabeça seja lançada fora do corpo do que trair algum segredo da Ordem ou denunciar algum dos irmãos. Assim como o filho pródigo, que se afastou do pai para buscar a felicidade fora da casa paterna e passou por grandes humilhações, o soberbo aceita se submeter até mesmo àquele que lhe é menor, esperando, ilusoriamente, alcançar o que deseja. A razão humana, obscurecida pelo pecado, aceita até mesmo o irracional; nega servir a Deus, mas aceita servir aos homens.
Mas o último arcano da sociedade secreta é uma verdadeira decepção. O último segredo é o Nada. Não há nada a ser revelado. O segredo é um Vazio completo. Se o soberbo pensou ser maior, caiu na mais profunda humilhação do Nada. A sua glória é a glória do Nada, pois a Escritura diz que "não há nada de novo debaixo do Sol". Não existem segredos, não existem mistérios. A mentira do diabo culmina no desespero. Em troca de alguma glória, o soberbo aceita até mesmo entregar sua alma ao demônio, e passa a praticar magia e alquimia. Suspeita-se até mesmo que Karl Marx tenha se iniciado em alguma sociedade satânica, já que ele era obsecado pelo poder e pretendia fundar uma doutrina que lhe desse prestígio em todo o mundo. Marx queria que os homens o servissem, e pouco se importou com o bem-estar da humanidade.
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A soberba, assim como todos os demais pecados, é um atentado contra a razão. Confrontar o próprio ser com o Ser de Deus é a origem de todos os males. Se o homem quer se fazer mais do que é, admitindo-se Deus, então todos os outros pecados se tornam consequência, pois o bem pessoal rege a moral humanista.
Não à toa a monumental obra de São Tomás de Kempis - Imitação de Cristo - começa falando sobre a vaidade, pois para imitar Cristo - fonte de toda a Verdade - é necessário negar a vaidade e a soberba - fonte de todo o pecado, abraçando a virtude da humildade.
Quem quer conhecer sem amar comete o mesmo pecado de Lúcifer. Afinal, ele sabia que Deus é Bom, mas ainda assim não quis servi-Lo, mas apenas usufruir do Bem que é Deus.
A Modernidade é filha da soberba de Lúcifer. Ela pretende conhecer a verdade sem servir a Deus. Mas aonde estará a verdade, senão em Deus? E como conhecer Deus sem amá-Lo? A inconformação do demônio com o seu estado de criatura fez com que ele ensinasse o Antropoteísmo ao homem: sirva a si mesmo. Não há necessidade de servir a Deus, pois cada homem é, ele próprio, a divindade.
Na Modernidade não há verdade perene, nem autoridade. A Modernidade rompeu com toda a tradição. Não há verdade a ser mantida e ensinada, nem autoridade a ser obedecida. A Modernidade fez do Reino do Homem na Terra uma revolução satânica.
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A inconformidade do homem moderno está em aceitar as coisas como Deus as fez. Por isso, toda a Modernidade é anti-natural, pois nega o ser, e passa a fazer da existência uma evolução contínua. Não há mais uma natureza sob a qual as espécies se firmam; há um fluxo existencial, um devir, sobre o qual pouco podemos afirmar com a razão. Melhor seria intuir a existência por meio de uma experiência global. A filosofia romântica e a fenomenologia queriam destruir a distinção entre sujeito e objeto. Ambos são um só. Essa distinção só é provocada pela razão, que tudo classifica e divide. A existência não pode ser medida pela razão, pois é fluxo; e explicar um fluxo é cristalizá-lo e impedir seu desenvolvimento. Melhor é negar a razão e buscar um conhecimento que abarque toda a existência no próprio homem, unindo-a a ele. E certamente este conhecimento não pode ser racional.
Primeiro, nega-se o ser; depois, nega-se a razão. Sem o ser e a razão, o homem reclama para si a liberdade absoluta, já que não há um ser que dê fundamento às coisas e nem uma razão que reconheça a Verdade e o Bem. Essa liberdade é o fim da moral, terceiro passo dessa via anti-natural e gnóstica. O último passo é a negação da própria matéria, como meio de libertação, já que a limitação da matéria impede que o homem tenha a tão sonhada e delirante liberdade absoluta.
O homem soberbo decide, por si mesmo, o que é natural e o que é real. Ele se nega em aceitar o mundo tal qual Deus o criou. Ele se nega em aceitar a natureza. E, se negam a natureza, preferem aceitar o contrário dela, como forma de revolta. Praticam o homossexualismo, usam de drogas que destroem a razão, invertem os costumes e criam modas que invertem a noção de masculino e feminino. Tudo passa a ser uma construção humana. Já na Renascença, Pico della Mirandola dizia em sua tese herética sobre "A Dignidade do Homem" que, na terra, o homem usa de sua liberdade para construir o ser que pretende tornar-se. Os virtuosos, no futuro, tornar-se-ão como os anjos; enquanto que os viciados se rebaixarão ao estado de meros vegetais ou animais quaisquer. Era a liberdade do homem que determinava o ser que ele pretendia tornar-se. O que já demonstra, logo no início da Modernidade, a recusa de se aceitar o ser e a natureza dos seres, pretendendo-se buscar o Infinito no homem.
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É inegável aceitar que todo o conhecimento oferecido por sociedades secretas, confrarias e irmandades é fruto da soberba.
O conhecimento que Deus nos dá é o da Verdade, dEle mesmo, como recompensa pela servidão do homem humilde e justo. Humilde porque vê em si mesmo a insuficiência, e busca o ser que seja Infinito e Absoluto. Justo porque, ao encontrar Deus, dá a Ele o reconhecimento merecido, servindo-O fielmente, fazendo bem à própria alma, que está sedenta pelo Bem e pela Verdade.
Se Deus oferece a verdade, o demônio ensina a mentira, que é bem mais interessante aos soberbos, inconformados em serem servos da Verdade, e pretenciosos em se reconhecerem a própria Verdade.
Se a Igreja de Cristo ama a Deus e nega a si mesma; a soberba da Sinagoga de Satanás ama a si própria e nega a Deus. Tais sociedades secretas só podem contribuir para a realização desse Reino de amor-próprio, que é muito semelhante à Torre de Babel, já que nela, ninguém se entendeu. O amor-próprio da soberba não entende ninguém, só a si mesmo. O amor-próprio se recusa a ouvir a autoridade constituída, e foi justamente com uma revolta contra a autoridade que se iniciou esta tenebrosa era moderna, com a Reforma Protestante.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto interessantiíssimo. Muito bom.

Unknown disse...

evolucionismo sux...