terça-feira, 3 de novembro de 2009

A criatura sem fim é o fim da criatura

ATUALIZAÇÃO: Foi só este artigo ser publicado para que eu tome conhecimento deste surpreendente vídeo, que é a confirmação de todas as idéias expostas aqui. Sim! A Ciência, hoje, pretende substituir Deus!

"Diz o néscio no seu coração: 'Não há Deus'" (Salmo LII, 1).

Pela quinta das suas cinco vias para provar a existência de Deus, Santo Tomás afirma que todas as coisas naturais se dirigem para o seu fim, ainda que não possuam inteligência para conhecer e desejar este fim. Isto se dá porque o próprio Deus, a Sabedoria infinita, dirige estes seres que são irracionais. O fim primordial da Criação não é o mero cumprimento das operações de cada natureza (como no caso de uma planta que germina, nasce, cresce, dá frutos, etc.), mas sim, dar glória a Deus.
A glória de Deus é infinita, mas esta glória é intrínseca à Sua natureza, e é a glória necessária por causa da perfectibilidade do Seu Ser. "Gratias agimus tibi, propter magnam gloriam tuam": nós vos damos graças, por causa da Vossa grande glória - diz o Glória.
Porém, além da glória intrínseca, a Criação dá a Deus uma glória que não é inerente ao Seu Ser, mas é extrínseca, e, por isso mesmo, finita: é a glória que cada criatura dá por receber em sua essência uma participação limitada no Ser divino. Então esta glória é limitada tanto quanto o ser que a dá é limitado em sua essência. Por isso ensina a doutrina católica que o mundo foi criado para manifestar a bondade e perfeição de Deus (cf. Romanos I, 20). O fim das criaturas é honrar a Deus, e mesmo os seres irracionais glorificam o Criador ainda que não possam conhecê-Lo e desejá-Lo, pois a glória que Lhe dão é o fato de existirem e fazerem a vontade de Deus quando são dirigidas por Ele em suas operações.
Mas, dentre tantas criaturas, existem também aquelas que possuem consciência, isto é, capacidade de conhecer e saber que conhecem: o conhecimento reflexivo ou racional. Na hierarquia dos seres, ocupam os postos mais altos os homens e, logo acima, as naturezas angélicas.
Possuindo uma alma racional - ou melhor, espiritual -, o homem pode glorificar a Deus livremente, o que é mais nobre, pois enquanto que a natureza irracional é guiada pelo Criador para cumprir suas operações, o homem ama a Deus porque quer, mesmo que tenha a possibilidade de fazer o contrário. E Deus não poderia premiar com o Céu ou condenar ao Inferno qualquer criatura racional concomitantemente à sua criação. Seria absurdo Deus premiar alguém sem mérito, ou condenar alguém sem culpa. Primeiro é necessário um momento intermediário, onde a criatura racional decide livremente amar o bem e rejeitar o mal, para que assim mereça ser elevada ao seu fim último, a bem-aventurança eterna.
Nem os anjos nem os homens, entretanto, merecem o Céu. Deus, ao criá-los, deveria apenas dar-lhes uma felicidade condizente com as suas próprias naturezas, um Paraíso onde usufruiriam do bem natural, isto é, do bem criado, tal qual no Paraíso de Adão. Por esta razão o "Paraíso" onde estavam os anjos não é o Céu propriamente dito, e foi neste local onde Lúcifer se rebelou contra Deus e foi lançado no Inferno. Os anjos que desejaram servir o Criador foram elevados ao Céu finalmente.
Sendo a criatura um ser contingente, isto significa que ela não possui em si a razão do seu existir, mas recebeu de outro ser. E se foi criada pelo Ser necessário (Aquele que possui em Si mesmo a Sua razão de existir), este Ser criou direcionando a criatura para algum fim, pois é próprio da razão agir com finalidade, e não há coisa alguma que seja feita sem um objetivo ou termo final. Mas como seria absurdo que Deus criasse as coisas com um fim que seja inferior do que Ele próprio, as criaturas foram feitas com um fim supremo: seu fim é Deus mesmo, glorificá-Lo e manifestá-Lo pelo seu próprio existir. Deus, sendo o Sumo Bem, só poderia ter feito as coisas para Ele mesmo, pois Ele é o Ser absoluto. Tudo deve convergir para Ele. Se Deus criasse as coisas para um fim inferior (a glorificação do homem, por exemplo), seria admitir que há um fim diferente de Deus, ou seja, que há um bem apetecível pelas coisas que não precise ser o Bem supremo. Então: ou o homem também é Deus, ou Deus agiu de forma absurda. Portanto, como as duas hipóteses são igualmente ridículas, Deus só poderia ter criado para que Ele fosse o fim da Criação.
Ora, mas se nem os anjos e nem os homens merecem o Céu - pois a sua condição de criatura os destinaria a usufruir do bem criado num Paraíso próprio, ao mesmo tempo em que conheceriam e amariam a Deus sem vê-Lo -, como Deus destinou as criaturas racionais para o Céu? O fim dos anjos e dos homens, portanto, é um fim sobrenatural, isto é, não merecido, e muito menos criaturalmente possível. O Céu não é merecido porque ninguém tem direito a ver Deus, por ser criatura. E o Céu não é possível porque a criatura, justamente por ser criatura, é incapaz de alcançar o Céu mediante seu próprio agir. Deus destinou as criaturas racionais com o Céu por amor, manifestando assim mais perfeitamente a Sua bondade ao convidar estes seres para participarem de Sua felicidade e beatitude. Somente com auxílio sobrenatural é que os anjos e os homens podem atingir o seu fim supremo. Este auxílio é a graça santificante.
O Céu consiste em conhecer e amar a Deus, mas nenhuma criatura alcança o amor necessário para vê-Lo. Deus mesmo dá aos anjos e aos homens um amor sobrenatural, superior ao amor da criatura, que é a graça. Esta graça é a Santíssima Trindade morando nos anjos e nos homens. Deus, sendo infinito, não pode simplesmente morar nas criaturas racionais, que são finitas. Então a graça é o resultado da presença de Deus no espírito, assim como o sol está nas coisas pela luz e calor que elas recebem, ainda que ele, em si mesmo, não possa iluminar e aquecer as coisas em sua plenitude sem que elas se destruam em sua incapacidade. A graça santificante é a participação na Vida divina, pois assim como as coisas iluminadas e aquecidas participam da luz e calor do sol sem ser o sol, do mesmo modo as criaturas participam da Santíssima Trindade ao receber a Sua Vida sem se identificar com Deus.
Mais propriamente, o que é a graça santificante? Se ela é a participação do viver divino, então ela é a união da criatura com o Criador: uma união íntima e pessoal, pois não se resume a um mero "acordo" entre Deus e os homens, mas numa união real e sobrenatural, que torna o espírito ligado a Deus, participando da Sua Vida. E justamente por unir a criatura ao Criador que a graça é santificante, pois é uma união que assemelha o homem a Deus, ou seja, que o santifica. Este foi o estado em que os anjos e o primeiro casal foram criados.
O amor a Deus que a criatura é incapaz de dar para merecer o Céu Deus mesmo dá, pela graça santificante. Esta união que assemelha a criatura ao Criador, que a faz participar do Seu viver divino, que permite a habitação de Deus nela, é o resultado da amizade e do amor da criatura para com o Criador. O melhor modo de comparar o efeito da graça santificante é o casamento. No amor, o casal é um; no número, são dois: marido e mulher. A união é a participação dos cônjuges na vida de ambos pelo amor. A graça santificante une amorosamente a criatura ao Criador, pois Deus, Sumo Bem, é desejado e possuído por ela.
O Céu é o fim do homem, um fim sobrenatural, ao qual Deus o destinou por Sua bondade. Para alcançar eficazmente este fim, Deus lhe deu a graça santificante em sua alma, e pela graça o homem possui a Deus, assemelhando-se, unindo-se e amando o Criador.
Mas se o Céu é a posse intelectual da essência de Deus (a criatura que vê, ou melhor, que conhece a Deus e o ama), como pode a graça santificante ser a "posse de Deus na alma", a sua "união com Ele", sendo que os anjos e o primeiro casal foram criados com a graça, num Paraíso que ainda não era o Céu?
A graça santificante é a garantia do Céu, já é o Céu, mas de modo invisível: é a criatura unida a Deus, mas ainda sem vê-Lo. No Céu, esta união tornar-se-á visível. Cada criatura está unida a Deus tanto quanto está participando da vida divina pela graça. Por isso uns são mais santos que outros, tendo em vista os seus méritos. O seu grau de participação do viver de Deus é o grau de união com Ele, e o grau de semelhança. Quanto mais amigo de Deus, quanto mais a criatura o deseja, mais o possui. Por isso este mundo é considerado nada em comparação com Deus, que é o tudo das criaturas: "Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo" (Filipenses III, 8).
Em termos humanos, pode parecer incompreensível que Deus tenha feito tudo para receber amor das criaturas, pois supõe-se egoísmo. Deus não pode ser egoísta. Ele não "se faz" o centro, Ele é o centro, por razões óbvias: Ele é o Ser absoluto, ao qual tudo deve tender. Ele não "se faz" fim último, porque é o Sumo Bem. E se Ele tudo criou, ao invés de lamentarmos a inevitável incompreensibilidade do mundo - que é admirável perante os míopes olhos da humanidade decaída -, deveríamos, ao menos, honrá-Lo por nos ter dado o bem da vida. O homem se escandaliza com um filho que nega amar e cuidar do pai, ou mesmo se esbraveja com um animal de estimação que contraria as suas ordens, como então queremos faltar com o amor a Deus por achá-lo "egoísta"?
Sem falso intelectualismo, rezemos estas duas jaculatórias essenciais para o estudioso de Filosofia e Teologia: "Ó Jesus, meu fim último e Bem supremo, tende piedade de mim" e "Ó Jesus, que nos criastes para Vós, fazei que vivamos inteiramente para Vós".
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Como se sabe, o ser ou é contingente, ou é necessário. Contingente quando não possui em si a razão do seu existir, isto é, outro o fez existir. Necessário quando ele possui em si a razão do seu existir, não precisando ser criado, mas existindo por si mesmo e em si mesmo. O único ser necessário é Deus, pois os seres contingentes são necessariamente criaturas.
As criaturas, justamente por serem contingentes, devem ter um fim, pois o Ser necessário deu-lhes a existência por alguma razão, que é o seu termo último. O ser contingente concomitantemente recebe um fim. Se foi criado, tem um motivo. Somente o Ser necessário não tem fim, pois não precisa atingir nada anterior ou superior, já que é o Ser absoluto e Sumo Bem.
Estas linhas, da mais pura Filosofia e do mais claro bom senso, são ignoradas pela classe intelectual do mundo moderno. Ignoradas, não. Rejeitadas.
A Psicanálise, a Psicologia, a Filosofia e a História, da forma como são entendidas e desenvolvidas hoje, consideram que o homem busca Deus para explicar fenômenos misteriosos, para consolar-se dos males da vida, para superar a sua inevitável mortalidade e finitude, para projetar num ser invencível tudo o que ele mesmo não é. Deus é visto como a sua auto-superação, a sua tentativa de fuga das próprias misérias. Quando o homem compreende a sua limitação sem cair em desespero, mas a aceita e a assume, Deus se torna desnecessário. Então é Ele que pode ser superado.
Este argumento pueril demonstra o quanto estão frágeis os fundamentos das Humanidades desde a revolução que a Filosofia sofreu com o advento da Modernidade. Se ele possui uma certa atração para os incautos, sob a luz da razão não há como subsistir.
Dizer que Deus é um Ser "criado" para a auto-superação do homem não é uma prova da Sua não-existência, mas um argumento para explicar por que Ele foi acreditado por tantos povos. O argumento contra a existência de Deus deve ser de natureza metafísica, e não psicológica. Transpor este problema para a disciplina errada só demonstra a não compreensão da matéria. Se alguns povos projetavam em Deus os seus medos, nem por isso Deus necessariamente deve ser um mito, mas é a prova de que Ele foi concebido mitologicamente por alguns.
Ademais, ensina Santo Tomás que se chega ao Imutável por meio daquilo que é mutável, como também se chega ao Perfeito por meio daquilo que é imperfeito. Não é a ausência de perfeições da natureza humana que a faz imaginar um ser invencível que seja tudo o que ela não é. Pelo contrário: o homem atinge o conhecimento de Deus pelo que ele tem, pois somente observando as perfeições das criaturas é que se concebe um Criador infinitamente perfeito. Se o homem projetasse em Deus os seus anseios, Deus seria uma consolação humana, uma tentativa de alcançar aquilo que a natureza humana não possui. Mas sabemos que o espírito filosófico - ao menos dos gregos - é suficiente para refutar esta idéia. O que moveu os filósofos foi o amor à verdade, por meio do qual eles compreenderam a necessidade da existência de Deus. E, dependendo do sistema religioso, nem sempre é válido pensar que Deus seja apenas uma "ferramenta" para a auto-superação humana dos seus medos e das suas limitações, pois é justamente de limitar e amedrontar os homens que muitas religiões são acusadas, com seus rituais severos e punitivos, o que inclui a ameaça do Inferno, comum a muitas delas.
E se no passado os homens recorriam a Deus para explicar os fenômenos da natureza, hoje, os cientistas recorrem a Deus para explicar a explicação dos fenômenos, visto que a Ciência é limitada e não compreende a realidade em seu sentido profundo. Voltamos à quinta via de Santo Tomás: se o universo é ordenado, é porque há um Ordenador. É isso que pretende a teoria doDesign inteligente.
O argumento dos "intelectuais" da Modernidade é medíocre. Defender que Deus é fruto de "medos humanos" e que hoje o homem superou este estado só responde as razões psicológicas para a crença nEle, por parte de certos grupos, mas não nega pela metafísica que Ele não existe. É o mesmo que um vegetariano começar a negar a existência da carne só porque agora "não precisa" da proteína animal; ou seja, uma coisa não prova a outra. A superação de um estado psicológico de medo, angústia e terror não prova a inexistência de Deus por causa de uma humanidade mais consciente.
Há ainda outro argumento contra a existência de Deus, que parte do mesmo princípio. O homem busca a Deus porque quer encontrar o sentido da vida, o fim da criatura. Segundo estes "intelectuais", pretensos conhecedores de metafísica, o homem é incapaz de viver sem um fim: a vida tornar-se-ia insuportável. Para não admitir que o mundo é fruto do acaso, que a vida não faz sentido, e que não seremos compensados pelo bem que fizemos e muito menos pelo mal que sofremos, o homem projeta um Deus, como também um fim. Ele dá sentido à existência, para que assim não caia no desespero, e ainda tenha um motivo para tudo sofrer e suportar. Deste modo, os males não só são justificados, como também aceitos. Mais uma vez, prova-se que não foi Deus quem criou o homem, mas o homem que criou Deus para o seu próprio consolo. Deus é um sonho infantil da humanidade, que ainda não está preparada para enxergar a realidade, ou está relutante para a vinda deste dia.
Novamente temos um argumento com forte capacidade de convencer. Mas ficar convencido por ele é também trocar o caráter metafísico do problema pelo psicológico: o homem não se contenta com a não-existência de um fim, e prefere criar um a viver sem. Este argumento, apesar de sedutor, é fragilíssimo. Porque, para ele ter solidez, deveria ser evidente que não há um fim, o que é problemático para a metafísica. O argumento, em si, não prova que "Deus não existe", mas pretende explicar porque Deus foi buscado. Ademais, buscar o fim da existência não é uma "fraqueza", mas o exercício óbvio da racionalidade humana.
Na verdade, este argumento possui uma consequência mais profunda. Caso ele negue um fim para a existência, supera-se o caráter contingente dos seres, pois, como foi dito, todo o ser contingente necessariamente tem um fim, visto que outro ser deu-lhe a existência por algum motivo ou razão. Se o ser contingente não tem um fim, não precisa atingir algo, então ele é auto-suficiente, bastando-se a si mesmo. Em outras palavras, o ser contingente torna-se ser necessário e absoluto. Negar que os seres possuam um fim é igualá-los a Deus, pois Deus não precisa atingir nenhum fim, sendo Ele o Seu próprio fim. Se se sabe que os seres espalhados na natureza são limitados, finitos e imperfeitos, necessitando de uma causa, negar um fim para estes seres seria violar-lhes a sua própria criaturalidade. Em outras palavras, a criatura sem fim é o fim da criatura, pois de criatura passa a ser Criador, isto é, Ser absoluto, que nada precisa atingir, sendo beato em si mesmo. Quando o argumento afirma que o homem procura um fim e é incapaz de viver sem um sentido, não está revelando uma fraqueza do homem, mas a sua própria condição de ser contingente, que compreende pela razão a necessidade de um fim.
Agora torna-se mais compreensível a epígrafe deste trabalho. O néscio nega a existência de Deus em seu coração, não em seu intelecto. Isto significa que ele não quer, em sua vontade, que Deus exista, apesar de não conseguir provar a sua inexistência pela razão. Estes argumentos da pretensa intelectualidade orgulhosa de nosso século só demonstram a tentativa de tornar o homem auto-suficiente, ainda que se desvie o caráter do problema, de metafísico para psicológico, ou então "psicanalítico".
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"Se Deus não existe, tudo é permitido", disse sabiamente Fiodor Dostoievski, escritor russo. A conclusão é obvia: sem um fundamento absoluto para a realidade, que é referência universal, tudo se torna relativo. Ademais, sem Deus, não há mais moral, pois os atos humanos não estão mais aproximando ou afastando os sujeitos de seu fim. Deste modo, tudo é permitido, pois sem o Bem, não há o mal. Matar deixa de ser pecado, porque este ato já não é uma aversão a Deus quando Ele não existe. Então o bem se torna relativo.
Contra esta conclusão inevitável muitos ateus se levantam, para defender a possibilidade sadia de sua tese. Afinal, negar a existência de Deus é abrir ao homem a possibilidade de tudo fazer sem agredir ao seu fim, pois já não há um fim para a sua existência. Deste modo, o ateísmo é um liberalismo absoluto. Para uma sociedade, tal tese seria desastrosa, pois levaria à sua própria auto-destruição. Nenhuma ordem se sustentaria quando não há ordem objetiva, apenas convenções humanas, que não obrigam moralmente a ninguém. A única alternativa é dizer, com Rousseau, que o homem é naturalmente bom, acreditando que ele sempre optará pelo bem quando tem todo o direito de fazer o que melhor lhe aprouver.
Fugindo do caos ateísta, surge a idéia do "ateu virtuoso": aquele que vive a moral, mas não crê em Deus. Tal alternativa é absurda em dois sentidos. Primeiro, a virtude é o hábito de praticar o bem. Mas se Deus não existe, tudo se torna relativo, de modo que não há mais "o bem". Segundo, nenhum ateu é obrigado a fazer o bem se a existência não possui um fim. O bem será aquilo que ele considera como bem, isto é, um bem relativo. Logo, haverá vários "ateus virtuosos" (sic) praticando vários tipo de moral, e cada um acreditando estar fazendo o bem. Até mesmo os crimes podem ser vistos como um bem moral quando tudo é relativo.
Por último, o "ateu virtuoso" é a prova de que o ateísmo não pode existir enquanto prática, mas só como idéia. O ateu que quer viver virtuosamente está ordenando os seus atos para algum bem. Isto já é reconhecer um fim extrínseco ao ateu. A idéia de que "Deus não existe", enquanto idéia, é possível, mas impossível enquanto prática, pois, negando Deus, o ateu o substitui por outro fim, que pode ser o prazer, o poder, a riqueza, a fama, a saúde, etc. Estes bens tornam-se "o absoluto" do ateu que nega o Absoluto propriamente dito.
A própria escolástica tomista já considera isso pela noção de "natureza". Natureza é "um ser visto do ponto de vista de suas operações". As criaturas possuem uma natureza que busca um fim, isto é, que quer ser completada. Ela opera tendo em vista um fim. O comer pressupõe a necessidade de comida; o beber, da bebida; o conhecer, da verdade, e o querer, do bem. Uma natureza que age para atingir um bem que lhe é próprio está buscando o seu fim. Portanto, o ateu, quando nega a Deus, nega o Ser absoluto, necessário e transcendente, mas torna alguma criatura ou bem criado o seu fim alternativo e substituto. O "ateu virtuoso" torna o bem visado pela virtude o seu fim. Portanto, na prática, o ateísmo é inviável, impossível. Enquanto idéia, ele pode subsistir.
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Viu-se que a medíocre intelectualidade de nosso século ignora Deus porque não vê necessidade de um "fim" para o homem, e que buscá-lo é uma fraqueza a ser superada. Em seguida, passa a negar a existência de Deus com base nesta argumentação.
Mas também se viu que, ainda que Deus não exista, o homem faz de algum bem criado o seu fim, ao dirigir-se-lhe e visá-lo em suas operações.
Sendo assim, observamos que os mesmos intelectuais de sabedoria idiotizante agem exatamente conforme o previsto no parágrafo anterior: elevam algum bem criado à condição de fim, ainda que disfarçadamente pensem tê-lo negado. Karl Marx faz do dinheiro o bem máximo visado pelo homem; Freud, do sexo. Os historiadores e filósofos preocupam-se somente com o bem estar social, imaginando uma Utopia que supere o status quaestionis do "Capitalismo selvagem".
Estes intelectuais também atacam a existência de Deus por vê-Lo como uma tentativa do homem de superar a sua própria limitação, fraqueza e mortalidade. O melhor é o homem se aceitar enquanto tal. Deus seria uma quimera da imaginação humana.
Curiosamente, o "homem moderno", que supera Deus graças à sua pretensa sabedoria, cria seres que cumprem o mesmo objetivo de Deus ao ser "projetado" pelo homem em sua inteligência. O homem imagina em Deus todas as qualidades que ele não possui: imortalidade, invencibilidade, onipotência, onisciência e onipresença. Mas, na ausência de Deus, alguns seres imaginários assumem estas perfeições, para continuar consolando o homem, agora ateu.
Digo isso tendo em vista este vídeo, de uma risível situação. Enquanto uma especialista era entrevistada num programa local, explicando a prevenção da gripe H1N1, um desequilibrado surpreendentemente entra no estúdio, e diz, ao vivo, que a solução está nos extraterrestres. Eles é que nos darão a cura, basta procurá-los. Até então tudo esteve censurado. O louco é retirado de frente das câmeras, mas ainda é possível ouvir os seus gritos de "socorro" ao ser expulso do local.
Este é o homem moderno, com o seu glorioso cinismo intelectual. O episódio do louco é só um indicador da mentalidade deste século. Hoje, a cura deve ser procurada entre os extraterrestres, mas não em Deus. Deus é uma fantasia humana, fruto do barbarismo e selvageria de tempos passados. Hoje a ciência explica tudo, e o maravilhamento causado pela natureza já não nos deve levar à busca de um Ser transcendente.
Todo o esforço intelectual que levou os filósofos ao conhecimento de Deus deu lugar a um homem soberbo e cínico, que prefere acreditar em extraterrestres a ter que admitir a existência de Deus. Deus morreu para o homem moderno, mas em seu lugar levantaram-se muitas quimeras que procuram substituí-lo mediocremente.
A ficção científica sempre imagina seres de outros planetas, que são desenvolvidos, mais inteligentes, muito avançados, autores de uma civilização formidável, e desprovidos de muitas fraquezas humanas. Ainda que tenham tantas qualidades, estes seres preferem viajar para a Terra, a fim de ajudar os homens, de salvá-los da inevitável decadência, ou para preveni-los de um mal futuro. Este enredo fundamentou muitas estórias de nossa época. O exemplo mais claro é o do Superman.
E quem dera que fosse apenas ficção. Há gente que teoriza a respeito. Lembro-me de um livro que muito me prejudicou na minha conversão, pois além de me fazer perder tempo com leitura absurda, encheu-me de idéias que retardaram a minha redescoberta da Igreja. Trata-se de "Eram os deuses astronautas?", de Eric von Däniken. Este farsário, desacreditado pelos arqueólogos, não conseguiu conceber tamanha perfeição de tantas civilizações antigas, que erigiram monumentos de grande porte arquitetônico, sob rigoroso cálculo matemático. Egito é o exemplo mais claro. Estudando a mitologia de vários povos, Däniken supôs que seus deuses não fossem divindades, mas extraterrestres. Eles vieram, ensinaram vários conhecimentos técnicos, e foram embora. Mas os homens pensaram que eles fossem deuses, por causa da sua sabedoria e superioridade. O mesmo aconteceu com os astecas quando Cortéz e seus homens desembarcaram na América. O esplendor de suas vestimentas, o poder de suas armas e a imponência de seus navios fizeram os índios acreditar que fossem os deuses voltando. Tais eventos serviram para Däniken fundamentar a sua tese. O livro causou muita polêmica, mas tal qual O Código Da Vinci, impressiona os leigos, mas entedia os especialistas.
A obra de Däniken é mais um indicativo da mentalidade moderna. Sem Deus, o homem moderno se rebaixa a explicar as coisas através de idéias de uma estupidez clara. A "infantilidade" da crença em Deus dá lugar a uma atitude mórbida, que crê em duendes, em extraterrestres, ou em uma Física quântica que é quase uma Religião.
O argumento da classe intelectual contra a existência de Deus se aplica perfeitamente ao tipo ideal do homem moderno. Na ausência de Deus, finalmente ele se vê necessitando de um ser superior que o substitua, e aplica a uma quimera imaginária certas qualidades que ele desejaria ter. Isto explica porque sempre a ficção supõe que os extraterrestres são mais inteligentes, mais desenvolvidos, mais civilizados, de superioridade física e moral. Nunca imaginam uma espécie inferior, inclusive desprovida de inteligência. Até mesmo o dogma da Redenção é substituído pela filantropia interplanetária: se os ETs vêem, é porque eles querem nos ajudar.
Às vezes nem é necessário ir tão longe para substituir Deus. Hitler quis redimir o homem imaginando uma raça superior, supostamente apoiada pela Ciência, e que teria a glória de tempos remotos, pois voltaria à sua pureza originária. Curiosamente, certas notas da raça ariana nem Hitler possuía: os germânicos puros deveriam ser loiros, de olhos azuis e altos. Hitler nem mesmo alemão era, mas austríaco, e de ascendência judaica, como dizem. Tinha cabelo e olhos negros e era baixo. O fim último da raça humana era atingir a pureza ariana de outrora, mas, para tal, até mesmo Hitler estava incapaz de alcançá-lo, precisando também ser eliminado tanto quanto os judeus que ele matou.
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O mundo moderno, na ânsia de se livrar de Deus, endeusou a criatura, ao elevar certos bens naturais à condição de fim último, na ausência de um Ser absoluto, transcendente e necessário. Esta substituição atinge um limite quando chega ao absurdo e ao ridículo. Certas figuras são imaginadas pelo homem, fornecendo-lhe bens que ele já não pode mais procurar em Deus.
Deste modo, a pretensão orgulhosa de negar Deus por ser uma fantasia pueril dá lugar a uma atitude claramente estúpida, que é sintoma da insatisfação do homem com as coisas criadas, e o seu desejo de achar um ser que lhe sirva como Deus, projetando nele certas qualidades e perfeições que o homem mesmo não possui. Não há prova mais clara de que uma época está doente do que um mundo que nega Deus, mas espera em extraterrestres.

sábado, 6 de setembro de 2008

O antropoteísmo maçônico em sua simbologia


Se perguntarmos a um maçom qualquer se a Maçonaria presta culto ao Homem, ou se pelo menos reconhece que o Homem é divino ou tem algo de divino dentro de si, é bem provável que ele negue terminantemente. Sua reação será de espanto, e ele irá, em sua defesa, dizer que esta é mais uma lenda disseminada sobre a Maçonaria, mas que não tem a mínima procedência.
Ora, tolos seremos nós se acreditarmos no que este inocente maçom disser. E mais tolo é ele em não perceber a verdade que o cerca. A sua inocência é tal que ele não consegue enxergar os princípios de sua Sociedade. Está sofrendo uma ilusão, ou prefere iludir a si próprio, ignorando a verdade.
Para provar que a Maçonaria é antropocêntrica, e mais ainda, que ela é antropoteísta - isto é, considera que o Homem é Deus também -, basta que estudemos a sua Simbologia.
O Símbolo, diz Dionísio Areopagita - filósofo medieval - é o “inteligível no sensível”: é a manifestação sensível e material de uma idéia concebida na inteligência. A forma que a matéria adota nada mais é do que a manifestação de uma idéia. Daí dizer Santo Tomás e toda a filosofia escolástica que “forma” é a “idéia do ser”. Um ser é conhecido pela forma que ele possui. Esta forma, este modo de a matéria formar-se e modelar-se, é a revelação sensível de uma idéia. E a nossa inteligência nada mais faz do que abstrair esta informação. Por isso mesmo a forma é a “inteligibilidade do ser”, ou seja, é por meio dela que conhecemos o ser. Em síntese, a forma é a idéia do objeto, concebida na inteligência de alguém, que, quando se une à matéria, ambas - forma e matéria - formam a substância, o ser. Esta era a idéia de Aristóteles. Santo Tomás aprofunda o pensamento aristotélico ao dizer que um ser pode existir - ter forma - ainda que não tenha matéria ou não seja feito de matéria, como é o caso dos anjos, que são pura forma, e forma espiritual.
Dito isto, estudando os símbolos maçônicos, conhece-se as suas idéias. As formas que tais símbolos possuem, os objetos usados, nada mais são do que a revelação de um pensamento.
Estudemos um único símbolo, que é mais do que suficiente: o Compasso, o Esquadro e o 'G' maçônico, unidos num único símbolo. O Compasso é o instrumento responsável em fazer círculos perfeitos. À mão livre é impossível fazer o que o compasso faz: círculos perfeitos. Logo, é símbolo da perfeição.
Uma pergunta que intriga alguns estudantes do ensino básico escolar, mas que não deixa de ser interessante: quantos lados têm um círculo? Se o triângulo tem três, o quadrilátero, quatro, quantos têm o círculo?
A resposta é: infinitos. Por isso a sua forma circular, que impede que vejamos alguma face sua. É uma linha contínua, que transcorre a figura toda, sem deixar margem para alguma face. Daí ele ter infinitos lados. É por isso mesmo que o círculo também é símbolo da eternidade, devido à sua forma sem começo e nem fim. Na Antigüidade, os pagãos representavam a eternidade por meio de uma serpente que mordia o próprio rabo, tendo o corpo formando um círculo. A serpente que morde o próprio rabo, isto é, a cabeça que está no mesmo lugar que o rabo, ou ainda mais, o Princípio que está no Fim, é o símbolo da eternidade.Por razões óbvias chegamos à seguinte conclusão: o círculo - que é feito pelo Compasso - é símbolo da perfeição, infinitude e eternidade. Ora, quem é perfeito, absoluto e eterno é Deus. Logo, o círculo representa Deus.
Mas o compasso tem duas pontas. A “ponta seca” fica ao centro do círculo desenhado, e é a partir dela que o círculo se desenvolve ao seu redor. É pelo ponto central que surge o círculo, e do círculo conhecemos o ponto central.
No pensamento esotérico, ocultista e gnóstico, esta constatação tem um significado bem importante. O ponto central representa o Homem, enquanto o círculo representa Deus. Do ponto do centro surge o círculo, assim como do Homem surge Deus. Do mesmo modo, pelo círculo vemos o ponto central que há dentro dele, assim como de Deus surge o Homem.
Em outras palavras, reaparece aqui a noção renascentista de que o Homem é o “centro do Universo” ou “Microcosmo”. Isto quer dizer que o Homem sintetiza em si toda a criação. A criação não é um ato extrínseco de Deus. Deus não criou o mundo e está acima dele, sendo transcendente à obra criada. Deus, na verdade, seria a essência desse mesmo mundo, o conteúdo desse mundo, a “anima mundi” - alma do mundo -, como disse Giordano Bruno.
Na doutrina católica, as criaturas foram feitas por Deus e recebem um grau de existência por meio do Ser Divino. Não são Deus, mas participam em graus diversos do viver divino, já que possuem vida justamente por meio do criar divino. Na Gnose, pelo contrário, as criaturas são divinas porque a Divindade se fez matéria, se fez finita, se fez criatura. A Divindade esvaziou o seu próprio Ser, esgotou a própria vida, aniquilou a si mesma e fez o mundo. A Divindade “saiu de si” e se lançou no mundo, criando-o. Portanto, todas as criaturas possuem o conteúdo, a essência divina em si. São divinas. Desta idéia, surge duas correntes: a otimista (o Panteísmo) e a pessimista (a Gnose). O Panteísmo se rejubila com o mundo pois o vê como divino. O progresso humano não tem fim, já que o Homem é o estágio final da evolução da matéria, que é divina por si mesma. Finalmente, no Homem a criatura se descobre divina, e percebe que pode dominar e conhecer tudo. O fim da História é a Utopia, o reino do Homem na terra.
A Gnose, pelo contrário, vê o mundo com tristeza. O mundo é divino, mas isso se dá porque a Divindade “caiu no mundo”, ou seja, entrou num processo de decadência ou de involução. Agora ela está presa na limitação do mundo, já que todas as coisas feitas de matéria são limitadas pelas dimensões das formas de cada coisa. A Gnose só crê que a Divindade “caiu no mundo” porque afirma que Deus não é Ser, mas Evoluir. Deus não É um Ser, mas um evoluir, um contínuo tornar-se, um devir. Neste processo permanente, houve a decadência, o esfacelamento da Divindade, que gera a matéria decadente, limitada, falsa, enganosa. Agora há o processo contrário, de evolução e de retorno ao estágio inicial.
Se o esoterismo usa do símbolo do círculo, é porque crê que a realidade material abriga em si a realidade espiritual. Não há um mundo transcendente, ou um Deus transcendente. Deus está no mundo, seja na idéia panteísta, seja na idéia gnóstica. Ambas as correntes identificam o mundo sensível com o mundo espiritual, crendo numa única realidade. Por isso, surge a idéia gnóstica de que “matéria é espírito condensado, e espírito é matéria sublimada”. O Deus que é puro espírito se fez matéria, condensando-se nas criaturas, assim como a sua evolução fará com que as criaturas materiais se tornem puro espírito, e se unam no Absoluto divino novamente. O ponto representa o Homem porque vê o Homem como produto da Divindade, isto é, como o ser que abriga dentro de si o divino, a essência divina. Do mesmo modo, deste ponto o compasso faz o desenho do círculo, o que significa que do Homem surge Deus, um Deus que se esconde nas criaturas, e que se manifesta gradualmente pela evolução dos seres. Por isso mesmo a origem da idéia de evolução não está em Darwin, mas na Gnose ou no Panteísmo. Se do ponto surge o círculo, e do círculo chegamos ao ponto central, assim também das criaturas surge Deus, e de Deus emanam as criaturas. Criaturas não no sentido católico e escolástico, como seres que foram feitos por Deus mas não são parte dEle ou compartilham da essência dEle, mas sim, como seres que abrigam dentro de si a essência ou o conteúdo divino, já que o mundo é Deus feito matéria, feito criatura. Novamente digo que, desta idéia, surge as duas interpretações - a otimista e a pessimista - que mencionei acima.
Uma última idéia sobre o ponto e o círculo. A Maçonaria interpreta que o ponto é símbolo do absoluto, enquanto o círculo, do relativo. Absoluto porque o ponto é absolutamente necessário para que surja o círculo, já que o Compasso precisa se apoiar em um ponto para que a figura do círculo apareça, e por isso mesmo o círculo passa a ser visto como símbolo do relativo. Novamente aqui uma idéia gnóstico-panteísta: o ponto (o Homem) abriga em si o Absoluto (Deus), assim como o círculo (Deus) abriga em si o relativo (o Homem, ou o Mundo).
Em síntese, o círculo, produto do compasso, é símbolo de Deus, já que representa a eternidade, a infinitude e a perfeição. Em seu sentido mais profundo, o círculo representa a perfeita identificação que há entre Deus e o Mundo, que se correspondem, assim como vapor e gelo.
Com relação ao Esquadro, este é a combinação dos dois eixos, o vertical com o horizontal, que gera um ângulo de 90º, o ângulo reto. Isto quer dizer que de duas idéias opostas - vertical e horizontal -, contrárias entre si, surge um “caminho do meio”, o ângulo reto. Isto tende a ser dialético. Por formar um ângulo reto, o Esquadro é símbolo da retidão de caráter, ou seja, da moralidade do maçom. Os maçons usam do Esquadro para simbolizar a ação do homem sobre a matéria, enquanto o Compasso é símbolo do espírito, do pensamento e do raciocínio. Aliás, dizia Luiz Caramaschi, escritor maçom de Piraju, São Paulo, que os tamanhos dos círculos representam o tamanho do desenvolvimento do maçom na Loja, isto é, o seu progresso intelectual. Sendo mais explícito, se o círculo representa Deus, o tamanho do círculo representa o progresso contínuo da manifestação divina no Homem, que se faz divino a cada momento. Não à toa este mesmo maçom é um defensor da coexistência do Criacionismo e do Evolucionismo - assim como fazem, ingenuamente, alguns “intelectuais católicos”, como o prof. Felipe Aquino.
Ora, o Compasso simboliza o espírito, o raciocínio. O Compasso maçônico, porém, aponta para baixo. Por outro lado, o Esquadro representa a ação do Homem sobre a matéria; mas aponta para cima. Ambos se intercruzam, fazendo o desenho de um hexagrama, mas aberto.
O hexagrama - ou Estrela de Davi ou Selo de Salomão - era utilizado pela cabala, pela magia e pelas seitas esotéricas para indicar a interpenetração entre Deus e o Homem, a sua intercorrespondência. A criação seria a “contração de Deus”, o seu fazer-Se relativo, criatura. Em contrapartida, a criação, sendo finita, abrigaria dentro de si o Infinito e o Absoluto: o próprio Deus. Por isso o Compasso - símbolo do espírito - aponta para baixo, para a matéria, assim como o Esquadro - símbolo da matéria - aponta para cima, para o espírito. O espírito divino se fez matéria, assim como a matéria abriga em si o divino, e, pela evolução, chegará a seu estágio final, que é o retorno à forma de puro espírito, de pura Divindade infinita e absoluta. Por isso os dois instrumentos se intercruzam - Compasso e Esquadro -, para indicar a perfeita correspondência entre Deus e Mundo, entre Espírito e Matéria, entre Divindade e Homem. É o que nos confirma outro autor maçônico: "Com o compasso, a luz ganha forma, transforma-se em matéria, torna-se o homem, mas é com o esquadro que ele cresce. A união de ambos realiza a criação. Na ordem geral das coisas, a união do triângulo superior com o inferior cria as formas, realiza a natureza. No plano microcósmico, ou seja, no homem, a união do compasso com o esquadro dá-lhe a divindade. É como lemos no evangelho de São João, capítulo 5, versículo 26: Porque como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo." (OLIVEIRA, Daniel Marchi de. Do compasso e do esquadro no grau de aprendiz. Disponível on line em http://www.lojasmaconicas.com.br/artigo2/dmo.htm, negritos meus.)
No centro desta figura, há a letra 'G'. O seu significado é obscuro até mesmo para os maçons. Mas nós sabemos que há uma razão para ali estar, ainda que não seja conhecida por todos.
A letra 'G' é a sétima do alfabeto. O Sete é claramente um símbolo de Deus na Sagrada Escritura, já que no sétimo dia Deus descansou da criação. O sete, portanto, indica uma ação completa, e completo mesmo só é Deus, que é perfeito e absoluto. O seis é símbolo da perfeição das partes, já que 1 + 2 + 3 é 6, assim como 1 X 2 X 3 é 6. Mas quando o 6 é unido ao 1, símbolo da unidade Divina, já que Deus é Um, o resultado é 7, símbolo da perfeição total, o que indica que as partes - ou seja, as criaturas - só são perfeitas realmente se ficarem unidas a seu Criador, se se ordenarem em direção a Ele. Aliás, com a letra 'G' se escreve Deus em inglês e alemão - God e Gott, respectivamente -, e foi na Escócia que surgiu a Maçonaria.Este 'G' ao centro da figura indica que Deus - God - está ao “centro” do Homem, ao centro do processo de criação do mundo e de evolução da Humanidade para se tornar a Humanidade perfeita, tão sonhada pela Maçonaria. A “Fraternidade Universal” maçônica nada mais é do que o seu desejo em criar o Reino do Homem na Terra, um Homem que não precisa do Céu católico, mas que pode criar o seu próprio paraíso, sem um Deus Transcendente, mas com um Deus imanente, um Deus que está no próprio homem e em qualquer homem.
Ora, toda esta explanação nos mostra como a Maçonaria não só é Antropocêntrica, mas também Antropoteísta, já que considera que no Homem há a essência divina, uma centelha ou faísca divina, que o diviniza a cada instante, e que tende a se manifestar pela evolução. A Maçonaria seria a sociedade que torna os homens retos em espírito, o que torna mais propícia a manifestação de Deus no Homem, dentro de si. E quando em todos os homens Deus estiver manifesto, finalmente haverá o Reino do Homem na Terra, a Fraternidade Universal.
Crendo num Reino futuro na Terra, onde toda a Humanidade viverá em plena felicidade e todos os males serão dispersados, a Maçonaria só pode ser Utópica ou Milenarista. Explico.
A idéia de que “Deus se lançou no mundo”, e criou o mundo a partir de seu próprio conteúdo ou de sua essência divina é Antropoteísta, pois considera que há uma perfeita identidade entre Mundo/Homem e Deus. Esta idéia assume uma posição otimista no Panteísmo, assim como uma posição pessimista na Gnose, por razões já mencionadas.
Por isso mesmo, o Panteísmo espera a Utopia, o Reino da técnica, da ciência, do progresso material, do fim das doenças, dos males físicos e até mesmo da morte. É a confiança no poder racional do Homem, que tudo pode dissipar.
Já o Gnosticismo espera o Milenarismo, o Reino de completo desprezo pela razão, que seria mentirosa. Afinal, se a matéria é um estágio onde Deus está decaído, ela só pode ser uma falsa realidade; logo, a razão humana não tem nada a conhecer, pois todo o conhecimento seria enganador e falso. Por isso o Milenarismo confia na magia, no mito, nas forças ocultas da natureza, longe do progressivismo cientificista do panteísmo utópico.
Se Deus está no Homem, este Deus que evolui na matéria só pode culminar ou na Utopia panteísta ou no Milenarismo gnóstico. E a Maçonaria se divide nestas duas posições. Se a Maçonaria italiana é gnóstica, a da França é atéia e racionalista. Atéia porque não crê num Deus acima do Mundo, o que não impede de encarar o Homem como divino.
O leitor pode pensar que eu estou forçando os raciocínios para tirar as conclusões que bem quero. Afinal, não é qualquer maçom que acreditaria nas explicações que estou dando. Pensando bem, a maioria nem sabe destes raciocínios acerca da sua própria simbologia.
Mas eu tenho a meu favor a preciosa confissão de um maçom brasileiro que é milenarista, o já mencionado Luiz Caramaschi: “Todo o mal, por conseguinte, consiste em querermos fazer grandes coisas, por exemplo: salvar a Maçonaria do divisionismo que a matará, como já matou outras instituições; salvar a civilização da sua queda iminente; se a queda se consumar, fazer a Maçonaria constituir-se na CRISÁLIDA de que surgirá a nova civilização, a Jerusalém Celeste antevista nos graus 19 e 29, que, espera-se, estará acontecendo no 3º milênio (...)” (CARAMASCHI, Luiz. O Malho e o Cinzel. Temas maçônicos. 1 ed, Piraju: Ed. Sociedade Filosófica “Luiz Caramaschi”, 2006, p. 30, destaques do autor). Ou seja, Caramaschi suspeitava que, no Terceiro Milênio, se realizaria na Terra a “Jerusalém Celeste”, o Reino do Homem. “Segue-se disto que a Loja de Aprendiz (que é por onde começa a Maçonaria) aspira ser um modelo da futura sociedade humana em que reinará a irrestrita fraternidade (...)” (op. cit., p. 49). E havia ainda muitas outras citações a fazer de Caramaschi, onde ele demonstra ser um pensador bem simpático à Gnose; mas tais citações formariam um trabalho à parte, que não cabe neste momento.
O maçom que não acredita ser a Maçonaria uma instituição antropocêntrica e antropoteísta, é porque ainda não compreendeu a Maçonaria. E, para ser bem franco, poucos maçons a compreendem. A maioria passa anos sem saber o que ela realmente é, já que não têm capacidade para tal. São poucos que podem avançar neste meio. O resto é relegado a conhecimentos superficiais, sem muito valor. Isso quem já dizia era Albert Pike, um conhecido maçom, de escritos bem polêmicos.
O verdadeiro homem maçônico se conhece divino. Mas divinizar o Homem foi justamente a proposta da Serpente para Eva: "E sereis como deuses". Pois não seria de espantar que um maçom confirme tranqüilamente a nossa constatação: "O HOMEM NÃO sabe nada, mas é convidado a tudo conhecer. Não é prudente limitar o conhecimento, desde que este seja buscado de forma honesta e aplicado de maneira útil. Ao encararmos a luz, nossos olhos se ofuscam, mas, com o passar do tempo, nossas retinas habituam-se a contemplá-la, e ficamos livres dos grilhões da ignorância, das marcas da superstição. Procedendo assim, o homem chega a ter a impressão de, um dia, ter falando ao seus ouvidos a própria serpente do éden, que de uma maneira enigmática, repete-lhe a velha frase: sereis como deuses, conhecedores do bem e o mal." (op. cit., disponível on line em http://www.lojasmaconicas.com.br/artigo2/dmo.htm, negritos meus).
A proposta do conhecimento do bem e do mal foi justamente a tentação de Adão e Eva. A Serpente tentou-os a tudo conhecer, como se isso fosse possível. E agora a Maçonaria propõe este conhecimento, com as melhores das intenções.
Se a Maçonaria repete a tentação da Serpente em seus Templos, a sua Luz não pode ser a Luz de Cristo, mas a Luz de Lúcifer, luz da mentira, da soberba e da revolta. Revolta contra a ordem criada, revolta contra a contigência da criatura, e o desejo desregrado de fazer do Homem um Deus, detentor do Absoluto em si.
Não é de admirar, portanto, que a Maçonaria tenha liderado - e patrocinado - perseguições cruéis à Igreja católica ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX. Pois a História nada mais é do que a oposição entre a Igreja de Cristo e a Sinagoga de satanás, na qual a Maçonaria se inclui.

sábado, 21 de junho de 2008

Pretenções da soberba

Deus é o "Sumo Bem, bom e digno de ser amado sobre todas as coisas", nos ensina o Ato de Contrição. Deus é o Ser Absoluto, infinito, perfeito, eterno e imutável, de quem as criaturas receberam a existência, pois Ele é a sua causa eficiente. Todas as criaturas receberam o ser de Deus, e a essência de cada uma delas é o grau de recepção do ser de Deus. As criaturas não possuem a essência divina, pois se assim o fosse, as criaturas seriam o próprio Deus, o que é absurdo. Cairíamos no Panteísmo ou no Gnosticismo, ambos divinizadores das criaturas. Mas, pelo contrário, cada criatura é um ser relativo, que recebe o ser de Deus, uma essência, refletindo o Ser Absoluto.
Alguns incautos gostam de comparar Deus ao oceano, dizendo que cada criatura é como se fosse uma gota d'água da imensidão do mar. Esse exemplo é enganador. Tanto a água da gota quanto a água do ocenao possuem a mesma essência; afinal, é água de qualquer forma, independente da quantia. Somente a Gnose antiga admitia que a matéria possuía "éons" ou partículas da divindade aprisionadas nela. O homem não é uma gota do oceano divino. Ele possui uma essência dada por Deus, que é a natureza de cada ser. Cada ser é o que nasceu, e a sua natureza é sua a forma ou essência - aquilo que cada ser é, a forma como Deus concebeu cada ser -, uma idéia divina que foi manifestada pela Criação. Os seres, portanto, são análogos a Deus, já que refletem o ser de Deus, mas não compartilham, de modo algum, a essência divina. As criaturas são seres contingentes, enquanto Deus é o Ser Absoluto e necessário.
Contra este Ser revoltou-se Lúcifer, recusando-se a servi-Lo e amá-Lo, por orgulho. Lúcifer não aceitou ser criatura, e quis ser como Deus. Ninguém é como Deus, pois Deus é Um só. Lúcifer cometeu um ato de irracionalidade ao querer ser como Deus, o que é impossível. Também pecou contra a razão quando não quis servir a Deus, já que a razão reconhece que Deus merece adoração e servidão, como nos diz o Ato de Contrição. A infinita justiça divina puniu Lúcifer com o inferno, ficando longe desse Ser pela eternidade, privado de sua presença.
***
Da mesma forma que negou a Verdade, o demônio também ensinou a mentira ao homem. E Adão, acreditando piamente na fantasia e no delírio, sedeu à tentação e perdeu a graça divina que habitava nele. Adão acreditou na mentira de que ele também podia ser Deus, e que estava sendo enganado por um falso Deus, que queria retê-lo na contingência, enquanto Lúcifer era a verdadeira divindade, já que traria libertação ao atual estado de Adão. Adão acreditou que podia evoluir até se tornar Deus, por meio de um conhecimento infinito e absoluto que o divinizaria.
Assim como Lúcifer e seus anjos foram expulsos do Paraíso celeste, Adão foi expulso do paraíso terrestre. Com a queda do primeiro homem, o pecado entrou no mundo e corrompeu a carne. Todos nasceriam sob as consequências do pecado original, privados da graça e da imortalidade do corpo, suscetíveis a males físicos e morais, sendo o pior de todos os males não a morte do corpo, mas a morte da alma, privada de Deus pelo abismo que o pecado lançou entre Deus e o homem.
Deus, em sua misericórdia infinita, dá ao homem a Redenção por meio do Sacrifício do Seu Filho, oferecendo à humanidade decadente a possibilidade da Salvação. E a Igreja católica é a dispensadora dos Méritos de Cristo, fundada pelo próprio Jesus, aonde os homens se unem, na caridade, com o próprio Deus por meio da graça santificante.
Mas se Deus não descançou em ensinar a sua Verdade salvífica aos homens, também continou o demônio, movido por ódio, a propagar a mentira da qual é pai.
Se de um lado da História estão os filhos de Deus, que reconhecem que só Deus é Absoluto, Senhor e dominador de tudo, a quem todos devem render glória e servir com a própria vida; do outro, aqueles que são filhos do demônio, seguidores de sua mentira, inconformados com a criação divina, pois desejam ser o próprio Deus, e como não o podem, ensinam a mentira, a fim de que os homens percam a salvação e fiquem privados de Deus eternamente.
***
Ora, diz a Filosofia que todos os homens desejam saber. O conhecimento da Verdade e do Bem é um desejo natural dos homens, desejo este que só é plenamente saciado quando a alma humana encontra Deus, a Verdade e o Bem Absoluto.
Mas se os homens desejam conhecer o que é a Verdade e aonde ela está, com isso confessam que não possuem a Verdade, mas que a procuram pela razão. Ao olhar para si, o homem vê que seu intelecto é incapaz de compreender a totalidade da existência. Reconhecendo a própria limitação, o homem busca aquele que é o Ser em grau Absoluto, a quem ele deve servidão, já que um ser tão limitado não poderia ter gerado o mundo, muito menos originado a própria existência. Assim, ele busca conhecer Deus.
Mas se nem mesmo o mundo pode ser conhecido integralmente, como poderá o homem conhecer Deus? O intelecto humano é incapaz de conhecer Deus enquanto tal; mas - ensina Santo Tomás -, ainda assim podemos conhecer Deus em certo aspecto.
Um aluno de matemática que não consegue resolver um problema sabe, mesmo assim, que ele tem solução. Ele sabe que há solução, ainda que ele desconheça, e só conheça o problema, e não consiga ir além dele. Do mesmo modo, todos os homens podem conhecer Deus na terra, por via racional, e contemplá-Lo na eternidade, ainda que não possa ver Deus absolutamente, o que é impossível para a natureza humana ou para qualquer natureza.
Conhecer Deus enquanto tal é impossível, pois Deus é infinito e absoluto, e a razão humana é finita e relativa; mas pode-se conhecer Deus em certo aspecto, assim como pode-se conhecer o mundo em certo grau, ainda que a essência última de todas as coisas seja desconhecida para os homens. Já dizia Santo Tomás: "nenhum filósofo até hoje foi capaz de abarcar sequer a essência de uma mosca". Ora, qual a razão disso?
As coisas são cognoscíveis - passíveis de serem conhecidas - porque foram criadas por Deus, ou seja, foram pensadas por Deus em sua Sabedoria, e por isso podem ser conhecidas porque são inteligíveis. Mas, justamente por terem sido pensadas por Deus, cuja Sabedoria é infinita, não podemos conhecê-las absolutamente. Daí surge a teologia negativa de Tomás e de tantos outros: é mais fácil dizer o que Deus não é do que o que ele é. Conhecemos as coisas sob certo aspecto, mas o conhecimento absoluto do mundo ou do próprio Absoluto - Deus - é impossível.
Se o homem procura a Verdade, é porque sabe-se limitado. É um ato de humildade, pois a humildade é "o verdadeiro conhecimento de si mesmo". Aquele que se reconhece limitado, busca, por razões óbvias, aquele que é ilimitado. Por isso Adão conhecia as coisas: porque via nelas o reflexo do Deus que a sua razão clamava por encontrar.
A mentira ensinada pelo demônio fez com que o homem negasse a própria razão. Se a sua razão reconhecia a limitação do homem, o demônio, porém, fez-lhe crer que o contrário era verdadeiro: todo o homem pode ser Deus. Todo o homem é Deus, mas um Deus decaído na contingência da matéria, que precisa negar o que é para passar a ser o que não é. Todo o homem precisa negar que é homem e acreditar que é Deus. Então a razão mente; a matéria, limita; a moral, controla, e impede que o homem liberte-se do seu exílio.
***
A mesma mentira contada a Adão, continua o demônio a contar a todos os homens. Se Deus fez o homem com um desejo natural em conhecer as coisas, o demônio usou dessa qualidade para desviar o homem do reto caminho, ensinando o erro, para que ele o abraçasse como se fosse a própria Verdade.
Se na Antigüidade o esoterismo era praticado por poucos - uma elite de sacerdotes, filósofos e reis -, hoje, ele aparece em cada esquina, sob as mais diversas formas. Nunca se vendeu tantos livros de "auto-ajuda", esoterismo, misticismo, magia, horóscopo, espiritismo ou budismo. A sede de conhecimento do homem é desviada pela tentação de crer-se divino, auto-suficiente, capaz de realizar os milagres pela simples força de pensamento ou pelo "pensar positivo". Nunca René Descartes foi tão exaltado - apesar de poucos o conhecerem -, já que se "penso, logo, existo", então o pensamento é que gera a existência. É do pensar do homem que a realidade se firma, e não do pensar de Deus. Nunca se ensinou tanto a "auto-redenção" humana. Se de Cristo procede a salvação das almas, para a Modernidade, porém, é do pensar do homem que vem a solução de todos os problemas. A realidade depende do homem; e ele não só a cria pelo poder do pensamento, como também aprende a modificá-la.
A confusão polifônica que resultou da Modernidade é fruto do Protestantismo e do Liberalismo. O Protestantismo fez de cada fiel a sua própria Igreja, sem depender da autoridade. O Liberalismo, quando nega a verdade objetiva, dá a cada sujeito o direito de defender a verdade que bem quiser. Verdade é o que cada um pensa por verdadeiro. Não há nada a ser ensinado. Tudo é Verdade; mas tudo é Mentira. A partir do Liberalismo, a Dialética vai reaparecendo progressivamente na Filosofia. "A Verdade de tudo é que nada é Verdade". O Nada é a Verdade, o Não-Ser. Se não existe o Ser, só existe o devir, o puro fluxo, o eterno tornar-se. E se as coisas estão sempre se tornando - e nunca são -, não há a Verdade ou a Mentira. Verdade é dizer o que as coisas são; mas se os seres não são; então não há verdade. A Verdade é que não há Verdade. Cai-se na Dialética: qualquer coisa pode ser e não-ser; os contrários se equivalem, já que o ser não existe.
Com a liberdade do Liberalismo, todas as heresias passaram a ter direito de propagação, deixando de ser heresias. Hoje, o mundo assiste, calado, às mais grosseiras formas de esoterismo, que se propagam abertamente em toda parte. O mesmo indivíduo que lê horóscopo, assiste a Missa de "Cura e Libertação" da paróquia, faz as "simpatias" de um livro qualquer e frequenta aulas de Yoga. Não há mais compromisso com a verdade, não há coerência de pensamento. Tudo passou a ser válido. O mesmo indivíduo que é católico, também é espírita e agnóstico. Todos podem ser e não-ser. A Religião da Modernidade é a Dialética.
***
O demônio ensinou aos homens que eles devem conhecer-se divinos. A proliferação superficial e absurda do esoterismo, hoje, é prova disso. Mas este esoterismo consiste apenas em práticas grosseiras que a população desconhece o significado ou o sentido. Quase ninguém sabe o que é ocultismo, esoterismo ou Gnose. Poucos entendem do que se trata; mas mesmo assim, praticam o que manda os tais manuais de magia branca ou de "simpatias".
Mesmo que o esoterismo tenha adquirido uma versão popular superficial, evidentemente ele é apenas um eco da mesma e única mentira diabólica, que ainda subsiste em grupos mais reservados.
Ora, o povo não seria capaz de compreender o real sentido da Gnose. E, se compreendesse, teria grande repulsa. O terror e o medo que ela causaria levaria à completa destruição das práticas mágicas, que cairiam no esquecimento geral. Por isso, o esoterismo praticado pelo povo é apenas superficial, pois não alcança o seu sentido verdadeiro. São em grupos reservados que ele é compreendido e praticado com pleno entendimento. É nesses grupos que o demônio ensina suas mentiras, atraindo seguidores obsecados por conhecimento e poder.
***
Ensina Santo Tomás de Aquino que a soberba é um pecado supra-capital, isto é, está acima dos sete pecados capitais. Hoje, a Igreja classifica a soberba como um dos sete pecados; mas na época de Tomás, era a vaidade que ocupava seu lugar.
Santo Tomás diz que a soberba é a mãe de todos os pecados, pois todos os pecados participam da soberba e dela se originam. Afinal, soberba é a recusa da superioridade de Deus. O soberbo não é humilde, pois o humilde conhece a si próprio e vê a própria limitação, reconhecendo em Deus a causa da existência.
O soberbo não se conforma com a própria condição; quer ser mais do que é, e se recusa a servir a Deus. Por isso, todos os pecados capitais participam da soberba, pois alguém que ama desordenadamente a si próprio tende a cometer os demais pecados. Santo Tomás diz que a soberba é um pecado supra-capital, e que a vaidade é o pecado capital mais próximo da soberba, já que a ostentação de si próprio, a manifestação desordenada da glória pessoal, é a vaidade; e se o soberbo tem amor desordenado a si próprio, ele tende a ser vaidoso.
A soberba é a raiz de todos os pecados. É dela que deriva a Gnose, pois se o soberbo não se admite criatura, a Gnose quer fazê-lo Criador, o próprio Deus. A soberba dos homens quer atingir aquilo que não é, quer ser mais do que é. E o demônio, assim como tentou Eva, tenta agora todos os soberbos, fazendo com que estes creiam-se divinos. A sede natural de conhecimento - própria da natureza humana -, com a soberba, se torna a Gnose, o conhecimento do Absoluto, o tornar-se divino. O soberbo não quer conhecer a verdade para servi-la, mas para que ele possa ser transmutado por ela, tal qual na Alquimia, onde tudo, ao toque da Pedra Filosofal, tornava-se ouro.
As sociedades secretas são o poço aonde caem os soberbos. Elas prometem o conhecimento do divino - a Sabedoria divina, a Schekinah da Cabala. As iniciações perpassam a via de iluminação interior do neófito, onde ele lapida a pedra bruta que é seu coração, e descobre que o fundamento de tudo está nele mesmo. Mas esta iluminação é falsa; afinal, esta luz não é a Luz do Verbo, mas a luz de Lúcifer, luz mentirosa, que quer ser Luz sem Calor, pois não existe a Luz do Verbo - da Verdade - sem o Calor do Amor - sem o Espírito Santo. Não há como ter Deus sem amá-Lo. Lúcifer quis usufruir do bem que é Deus sem amá-lo e sem servi-Lo.
Os soberbos, em busca da satisfação pessoal, se submetem a tudo para conseguir o Conhecimento e o Poder que procuram. Se um soberbo se recusa a servir a Deus, que é Senhor e Dominador de tudo, e por isso mesmo merece a nossa servidão; paradoxalmente ele aceita se submeter até mesmo a outros homens - de natureza igual à dele - para alcançar a sua glorificação. Basta que se veja os rituais de iniciação da Maçonaria. O candidato é humilhado desde cedo, tendo que esperar numa "Câmara de Reflexão" até o início do Ritual. Em seguida, a sua confiança é testada, pois os rituais são feitos com os olhos do candidato vendados. E nos juramentos, ele confirma desejar até mesmo que sua cabeça seja lançada fora do corpo do que trair algum segredo da Ordem ou denunciar algum dos irmãos. Assim como o filho pródigo, que se afastou do pai para buscar a felicidade fora da casa paterna e passou por grandes humilhações, o soberbo aceita se submeter até mesmo àquele que lhe é menor, esperando, ilusoriamente, alcançar o que deseja. A razão humana, obscurecida pelo pecado, aceita até mesmo o irracional; nega servir a Deus, mas aceita servir aos homens.
Mas o último arcano da sociedade secreta é uma verdadeira decepção. O último segredo é o Nada. Não há nada a ser revelado. O segredo é um Vazio completo. Se o soberbo pensou ser maior, caiu na mais profunda humilhação do Nada. A sua glória é a glória do Nada, pois a Escritura diz que "não há nada de novo debaixo do Sol". Não existem segredos, não existem mistérios. A mentira do diabo culmina no desespero. Em troca de alguma glória, o soberbo aceita até mesmo entregar sua alma ao demônio, e passa a praticar magia e alquimia. Suspeita-se até mesmo que Karl Marx tenha se iniciado em alguma sociedade satânica, já que ele era obsecado pelo poder e pretendia fundar uma doutrina que lhe desse prestígio em todo o mundo. Marx queria que os homens o servissem, e pouco se importou com o bem-estar da humanidade.
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A soberba, assim como todos os demais pecados, é um atentado contra a razão. Confrontar o próprio ser com o Ser de Deus é a origem de todos os males. Se o homem quer se fazer mais do que é, admitindo-se Deus, então todos os outros pecados se tornam consequência, pois o bem pessoal rege a moral humanista.
Não à toa a monumental obra de São Tomás de Kempis - Imitação de Cristo - começa falando sobre a vaidade, pois para imitar Cristo - fonte de toda a Verdade - é necessário negar a vaidade e a soberba - fonte de todo o pecado, abraçando a virtude da humildade.
Quem quer conhecer sem amar comete o mesmo pecado de Lúcifer. Afinal, ele sabia que Deus é Bom, mas ainda assim não quis servi-Lo, mas apenas usufruir do Bem que é Deus.
A Modernidade é filha da soberba de Lúcifer. Ela pretende conhecer a verdade sem servir a Deus. Mas aonde estará a verdade, senão em Deus? E como conhecer Deus sem amá-Lo? A inconformação do demônio com o seu estado de criatura fez com que ele ensinasse o Antropoteísmo ao homem: sirva a si mesmo. Não há necessidade de servir a Deus, pois cada homem é, ele próprio, a divindade.
Na Modernidade não há verdade perene, nem autoridade. A Modernidade rompeu com toda a tradição. Não há verdade a ser mantida e ensinada, nem autoridade a ser obedecida. A Modernidade fez do Reino do Homem na Terra uma revolução satânica.
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A inconformidade do homem moderno está em aceitar as coisas como Deus as fez. Por isso, toda a Modernidade é anti-natural, pois nega o ser, e passa a fazer da existência uma evolução contínua. Não há mais uma natureza sob a qual as espécies se firmam; há um fluxo existencial, um devir, sobre o qual pouco podemos afirmar com a razão. Melhor seria intuir a existência por meio de uma experiência global. A filosofia romântica e a fenomenologia queriam destruir a distinção entre sujeito e objeto. Ambos são um só. Essa distinção só é provocada pela razão, que tudo classifica e divide. A existência não pode ser medida pela razão, pois é fluxo; e explicar um fluxo é cristalizá-lo e impedir seu desenvolvimento. Melhor é negar a razão e buscar um conhecimento que abarque toda a existência no próprio homem, unindo-a a ele. E certamente este conhecimento não pode ser racional.
Primeiro, nega-se o ser; depois, nega-se a razão. Sem o ser e a razão, o homem reclama para si a liberdade absoluta, já que não há um ser que dê fundamento às coisas e nem uma razão que reconheça a Verdade e o Bem. Essa liberdade é o fim da moral, terceiro passo dessa via anti-natural e gnóstica. O último passo é a negação da própria matéria, como meio de libertação, já que a limitação da matéria impede que o homem tenha a tão sonhada e delirante liberdade absoluta.
O homem soberbo decide, por si mesmo, o que é natural e o que é real. Ele se nega em aceitar o mundo tal qual Deus o criou. Ele se nega em aceitar a natureza. E, se negam a natureza, preferem aceitar o contrário dela, como forma de revolta. Praticam o homossexualismo, usam de drogas que destroem a razão, invertem os costumes e criam modas que invertem a noção de masculino e feminino. Tudo passa a ser uma construção humana. Já na Renascença, Pico della Mirandola dizia em sua tese herética sobre "A Dignidade do Homem" que, na terra, o homem usa de sua liberdade para construir o ser que pretende tornar-se. Os virtuosos, no futuro, tornar-se-ão como os anjos; enquanto que os viciados se rebaixarão ao estado de meros vegetais ou animais quaisquer. Era a liberdade do homem que determinava o ser que ele pretendia tornar-se. O que já demonstra, logo no início da Modernidade, a recusa de se aceitar o ser e a natureza dos seres, pretendendo-se buscar o Infinito no homem.
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É inegável aceitar que todo o conhecimento oferecido por sociedades secretas, confrarias e irmandades é fruto da soberba.
O conhecimento que Deus nos dá é o da Verdade, dEle mesmo, como recompensa pela servidão do homem humilde e justo. Humilde porque vê em si mesmo a insuficiência, e busca o ser que seja Infinito e Absoluto. Justo porque, ao encontrar Deus, dá a Ele o reconhecimento merecido, servindo-O fielmente, fazendo bem à própria alma, que está sedenta pelo Bem e pela Verdade.
Se Deus oferece a verdade, o demônio ensina a mentira, que é bem mais interessante aos soberbos, inconformados em serem servos da Verdade, e pretenciosos em se reconhecerem a própria Verdade.
Se a Igreja de Cristo ama a Deus e nega a si mesma; a soberba da Sinagoga de Satanás ama a si própria e nega a Deus. Tais sociedades secretas só podem contribuir para a realização desse Reino de amor-próprio, que é muito semelhante à Torre de Babel, já que nela, ninguém se entendeu. O amor-próprio da soberba não entende ninguém, só a si mesmo. O amor-próprio se recusa a ouvir a autoridade constituída, e foi justamente com uma revolta contra a autoridade que se iniciou esta tenebrosa era moderna, com a Reforma Protestante.

sábado, 26 de abril de 2008

Gostosa insipidez da modernidade

É bem provável que você, leitor, já tenha ouvido o seguinte comentário: “naquela festa só tinha gostosa”. Sim, essa horrenda constatação mesmo, que eu tenho o desprazer de reproduzir aqui. A frase pode mudar, mas o trato dado às mulheres é o mesmo: “gostosa”. O tema é do mais baixo nível, mas terei que falar dele.
Fico pensando se aquele infeliz que disse tal grosseria iria repeti-la, caso a mãe e a avó dele fossem na tal festa. Penso que, se eu pedisse a ele para classificar a “beleza” de sua honrada mãe e de sua dedicada avó se ele chegaria à mesma conclusão. Talvez só usando de um argumento desses ele pensaria melhor e refletiria sobre a sua forma de pensar e de julgar.
O único modo de entender o por quê dessa expressão ter surgido é buscando o contexto dela, isto é, que tipo de mentalidade pode tê-la gerado.
Só aplicamos plenamente a expressão “gostoso”, “gostosa” às coisas sensíveis. Afinal, somente o que é sensível tem “gosto”, que é o reconhecimento que a nossa sensibilidade tem dos sabores. Gostoso é aquilo que é sensível.
Mas podemos, por analogia, aplicar esta qualidade às coisas inteligíveis. Dizemos que “ler é gostoso” ou que “conversar é gostoso”. Tudo aquilo que nos dá satisfação torna-se “gostoso”. Eis a primeira conclusão: tudo o que nos dá satisfação é gostoso.
Ora, aplicando isso ao comentário exposto, a mulher passa a ser vista como objeto de satisfação pessoal. Só se vê bem uma mulher na medida em que ela supre uma necessidade.
E isso nos faz pensar que a modernidade, que tão racional e racionalizante quis ser, na verdade trouxe o predomínio da sensibilidade sobre a razão.
O homem, evidentemente, é um animal. Mas não é um animal qualquer, pois foi dotado de inteligência e vontade. O homem foi criado à imagem de Deus, em virtude dessas características. Portanto, não é mais um animal em meio a tantas espécies. É um animal superior na escala de perfeição.
Pelo fato de o homem ter inteligência, ele é capaz de pensar seus atos, visando um benefício. Por isso mesmo ele faz ou deixa de fazer algo, pensando num lucro a médio ou longo prazo. O animal irracional só sabe perceber o imediato, já que não consegue entender o sentido dos seus atos. Ele apenas precisa suprir suas necessidades, e tudo o que faz é em função disso.
Um ser humano é capaz de conter o sono, já que precisa trabalhar ou estudar. Ele é racional, e por isso mesmo pensa nas consequências dos seus atos. Todo o homem visa sempre um bem maior. Dormir é um bem, mas ficar acordado para trabalhar ou estudar gerará um benefício maior, e por isso ele se contém. Todo o homem, por ser racional, é capaz de estabelecer relação entre as coisas, e por isso saberá optar pelo melhor. O animal irracional, pelo contrário, dorme quando tem sono, sem entender a possibilidade de usufruir de um bem maior. Para o animal, todo o bem é imediato. Sua forma de conhecimento vem do sensível. Toda a vez que ele sente necessidade de algo, busca suprir.
Mas o ser humano tem que se conter, caso queira ter uma vida razoável. Mesmo que tenha fome ou sono, deve controlar seus apetites visando um bem maior. O obeso deve se controlar caso queira ficar saudável. É o predomínio da inteligência sobre a sensibilidade. A consequência disso é que o ser humano é capaz de pensar no futuro. Ele faz planos a médio e longo prazo. Ele constrói seus atos sabendo que poderá vê-los concluídos num futuro não muito próximo. A razão humana conhece tudo pensando atingir um bem maior. Daí conclui Santo Agostinho que verdadeira será a felicidade que for mais plena e mais perfeita. Ora, Deus é infinito e eterno. Logo, a felicidade verdadeira é Deus.
Se a felicidade verdadeira é Deus, todos os nossos atos deverão feitos em função dEle, para que possamos atingi-Lo pela prática do bem. Daí surge a moral. Só o homem tem moral. Evidentemente, por causa da razão. A razão é capaz de ordenar os atos tendo em vista um fim; de organizá-los e buscar relação entre eles. A razão busca a causa final de Aristóteles: o sentido daquele ser.
A moral é este sentido que damos aos nossos atos para alcançar um fim. A moral são os atos que praticamos pensando num fim. O verdadeiro fim da vida humana é a felicidade, que só se encontra em Deus; por isso, verdadeira será a moral que colocar Deus como fim em todos os atos humanos. “Baseando-se nesta doutrina, torna-se evidente que toda a vida presente se dirige à perfeita possessão de Deus. Assim, deve-se compreender toda a nossa vida terrena. Não se nega nenhum dos valores humanos, mas tomamos todos, elevamo-los ao fim sobrenatural, segundo as palavras de Cristo: 'Procurai primeiro o reino de Deus e sua justiça: o resto vos será dado por acréscimo' (Mt 6, 33)” (DEL GRECO, P. Teodoro da Torre. Teologia Moral. São Paulo: Edições Paulinas, 1959, primeira parte, cap. II, 6, p. 35).
A moral é a ciência que trata dos atos humanos realizados para atingir o seu fim último, que é a felicidade. Só o homem é moral, portanto. O animal age em função da lei natural, obedecendo à própria natureza e lutando pela sobrevivência.
Por isso, a razão, ao pensar no seu fim último, é capaz de evitar certos atos e de realizar outros, ainda que sejam contrários às sua inclinações. Nesse sentido, o homem não seria absolutamente livre, pois só teria liberdade para fazer aquilo que é bom, e que não impeça a realização do seu fim último. Liberdade seria o direito que temos de optar entre um bem maior e um bem menor. O homem é livre para fazer o que é moralmente bom, apesar de ter a possibilidade de cometer atos moralmente ruins.
Mas voltemos à questão inicial. O fato é que classificar uma mulher como “gostosa” - com o perdão da palavra, caro leitor - implica em vê-la de um ponto de vista estritamente material, sensível, como um objeto de uso material.
Nesse sentido, é excluso qualquer utilidade do matrimônio. Este teria sido instituído para que unisse o homem e a mulher a fim de que eles gerassem filhos para a sociedade. Se o todo vale mais do que a parte, e se todo o ato deve priorizar o bem maior ao invés do bem menor; logo, bom será a união que trazer benefício ao todo, e não só à parte. Afinal, o matrimônio só beneficia a parte – o marido e a mulher. Mas pela reprodução, o todo é beneficiado. Logo, este é seu fim mais nobre. Daí diz a Igreja que o casamento tem duas finalidades: procriativa e unitiva. Primeiro, ele foi criado para a procriação, e segundo, para a união afetiva do casal.
Se só se vê a mulher como objeto de satisfação pessoal, exclui-se qualquer responsabilidade social e até mesmo religiosa, já que o próprio Papa São Pio X já dizia que o casamento deve dar muitos católicos para a terra e santos para o Céu.
Se se exclui qualquer finalidade na faculdade sexual do homem, isto é, se a faculdade sexual é vista apenas como objeto de satisfação humana absolutamente, e não mais em função de um objetivo maior - a reprodução -, negamos a moral. O homem já não vive para agradar a Deus em todos os seus atos, dando objetivo e sentido a todos os seus atos e direcionando esse sentido a Deus. Agora, ele passa a direcionar os seus atos para si mesmo, fazendo de si mesmo o fim último de tudo.
Se não há mais um Céu a ser ganho, um Deus a ser amado e uma alma a ser salva, qualquer ato humano deve ser feito em função do próprio homem, que transfere para si mesmo o centro da existência e da História. Todo o prazer - ainda que lícito - deve ser usado para satisfazer o homem absolutamente. Sem o Céu, o que resta ao homem é usufruir do que encontra na terra. Ele troca a plenitude e a perfeição do Céu pela corrupção e pela instabilidade das coisas materiais.
É por isso que uma mulher passa a ser vista como “gostosa”. É só assim que ele consegue enxergá-la. E o mais triste é ouvir isso de pessoas que se consideram católicas, mas cuja alma está longe de entender o que é ser católico.
Nietzsche foi um dos mais árduos defensores dessa moral dos avessos. Ele mesmo dizia que o homem deve ser livre para fazer o que bem entender. Não importa o que você faça, o importante é ter consciência do que você é. Freud também martelou a moral ao dizer que ela era a causa de todos os males psíquicos e de todas as doenças da alma. Para que o homem seja feliz, ele deve abolir a moral.
Na Modernidade, o homem se faz Deus. Fica completamente explicável por que ele não quer aceitar nenhum sistema moral, já que não entende o viver em função de um fim último, mas só o viver para si mesmo. Se Deus nos ama, nos quer felizes; então tudo vale. A Modernidade nega um Deus no alto e admite o homem como Deus na terra. No reino do Homem não há moral, pois é livre e sem leis, como preconizavam a Utopia e o Milenarismo.
Nietzsche crê que o homem, se for absolutamente livre, será melhor, já que as leis o escravizam. O resultado deste delírio filosófico é o slogan da Universidade de Sorbonne, durante tumultuados protestos estudantis de 1964: “é proibido proibir”.
Ora, se ser livre é fazer o que bem quiser, sem se importar com a reação dos outros frente aos nossos atos, e sem se preocupar com o resultado desses atos, o homem terá se rebaixado ao nível dos animais irracionais, já que estes não conseguem dar um fim a seus atos. Só fazem aquilo que o instinto manda, sem moral nenhuma. E quem faz tudo o que quer, no fundo, jamais será livre, pois se torna escravo dos próprios instintos, que desejam ser saciados acima de tudo, impedindo o auto-controle. Nietzsche e Freud rebaixaram o homem ao estado irracional.
Aliás, ambos acreditavam que o homem era um mero acaso da natureza. Ele não estaria na terra por causa da criação de Deus, sendo senhor de toda a terra, que devia dominar, mas reconhecendo o senhorio absoluto de Deus, primeiramente. A evolução gerou o acaso do homem. Ele pensa ser o centro da criação, assim como a criança pensa que é o centro de tudo só porque seu pai lhe dá tudo. Essa filosofia nega qualquer superioridade do homem sobre as demais criaturas. Caímos no niilismo, na negação de qualquer valor e de qualquer dignidade humana. Portanto, nada mais natural do que o homem agir pensando só em si mesmo, como um animal, já que ele não é mais do que um animal.
E um animal olha para a fêmea vendo nela apenas a satisfação da sua necessidade reprodutiva. E pode ser a mãe dele, a irmã ou a prole. Freud, ao negar a moral, daria espaço ao incesto e à pedofilia, por exemplo.
Em síntese, a expressão “gostosa” é mais uma grosseria do pensamento Moderno. Negando-se Deus, elimina-se a moral. A finalidade máxima do homem seria viver para si mesmo, atingindo todo o prazer que conseguir, já que a felicidade do Céu não existe. Sem moral, o homem vive para realizar o que lhe cabe mais, mas isso o torna mais próximo dos animais irracionais, já que estes agem por instinto. A vida humana torna-se imediatista, sem noção de futuro. Tudo deve ser imediato, pensando-se só no prazer.
Ora, toda a vez em que uma sociedade está em crise, ela cai nesse sistema. O fim da pólis grega gerou três filosofias: ceticismo, epicurismo e estoicismo.
O estoicismo aceitava todos os males que o homem viesse a sofrer. Era uma espécie de platonismo distorcido. O ceticismo negava que o homem viesse a conhecer algo. Tudo era instável, falso e enganoso.
Mas se não temos certeza de nada – apenas temos certeza que não sabemos de nada. Essa certeza era a única reconhecida pelo cético, que, pelo visto, nem era tão cético assim! -, a vida humana é incapaz de conhecer qualquer sentido. Vive-se pelo prazer, que se torna o sentido da filosofia epicurista.
Se a razão não conhece nada, a única solução é passar para a sensibilidade como forma de entender a vida humana. Sem o inteligível, o que sobra é o sensível. Se o ceticismo nega a razão, o epicurismo o complementa e afirma a sensibilidade: vive-se para ter prazer. Estas filosofias surgiram com uma crise na instabilidade da pólis. São fruto das insatisfações dos homens, que perderam suas certezas e esperanças. Passam agora a viver como os animais.
Os romanos tiveram fim semelhante. A filosofia dominante no fim do Império decadente era o famoso “Carpe diem”: aproveite o dia.
Ora, se devemos “aproveitar o dia”, temos que fazer hoje o que sempre quisermos fazer, pois não sabemos se viveremos até amanhã. Come-se, bebe-se...e não se trabalha mais. O Império que já estava aos pedaços ficou ainda mais corroído pelos preguiçosos romanos que aproveitaram o dia e viram a noite se aproximar, sem ter como vencê-la. É a velha estória da cigarra e da formiga.
Quando a luz da Idade Média foi declinando, por causa dos ataques que a sua estabilidade sofrera de todos os lados, o que surge em seguida é a Renascença. E a Renascença também vive pelo prazer, já que era hedonista. A arte renascentista era visivelmente imoral, com seus anjos nus e deuses sem virtude, a se embebedar nos prados.
A modernidade, por fim, ia surgindo. No século XIX, as filosofias estavam rumando para uma glorificação nunca vista da ciência, preconizada pelo Iluminismo do século XVIII. Toda a filosofia procurava ser “científica”, já que o conhecimento científico é o mais elevado. Nega-se a metafísica. Qualquer especulação que vá acima da esperiência humana e da ciência é falsa e sem sentido. Não há como conhecer a causa eficiente - que deu origem ao mundo - e a causa final - que é para qual se dirigem os seres, para a qual eles foram criados. O que passar dos fenômenos é ilusório. Era assim que pensava o Positivismo, por exemplo.
Negando-se a metafísica e colocando firme confiança na ciência dos homens, só se esperava um reino de plena felicidade, com o fim de todas as desgraças e a estirpação de todo o mal. Mas o que se viu - e ainda se vê - é o contrário.
Ao fim do século XIX, Schoppenhauer e Nietzsche formularam um pensamento pessimista e delirante. O homem que assistia o seu mundo científico desmoronar já não vê sentido em nada. A vida foi fruto do acaso, de um conjunto de forças naturais. Ao mesmo tempo em que se negava haver sentido em tudo, a pergunta que os filósofos faziam era: “por que tudo deve ter um sentido?” Ora, querer saber o sentido do sentido é absurdo para quem nega haver sentido. Nietzsche contribui com a formulação do pensamento niilista, negador dos valores e de qualquer finalidade da existência.
O que sobre no homem, se sua vida não tem sentido? O que sobra nele, se a inteligência não é capaz de conhecer nada - até porque se negava a metafísica -, e todos os seus atos alcançam fim nenhum?
O homem, composto de corpo e alma, com o fim do século XIX, nega que tem alma. Passa a ser só corpo. Sem o auxílio da inteligência, o que sobra é a sensibilidade do corpo. E esta passa a ser o sentido da existência. Daí a liberdade plena que Nietzsche tanto defendia.
Por isso o Marxismo definiu que “o homem é um animal que trabalha”. O homem só vive para o trabalho; é só isso que pode defini-lo. O centro do homem é seu estômago, é para ele que se vive. Mas Freud, adepto de idéias igualmente irracionais, dizia que o centro da existência estava um pouco mais abaixo, já que acreditava que o homem fazia tudo em função do sexo. E esta é a gloriosa filosofia moderna...e já moribunda.
Essa é a grande prova de que o homem moderno vive sua agonia final. A decadência atingiu seus últimos limites. O racional homem moderno vive seus momentos de pura animalidade. O sonho da razão gerou um verdadeiro zoológico social. E as mulheres são vistas sem dignidade nenhuma...digo, algumas mulheres, pois os mesmos indivíduos que bradam “gostosa!”, ainda exigem um trato digno para a mãe, a avó, a tia...etc.
Toda a sociedade quando perde o seu equilíbrio e tende à ruína cai no ceticismo. Houve ceticismo no fim do apogeu grego, no fim da Idade Média, durante a Renascença, e no século XIX. O ceticismo é a franca confissão de que aquele sistema perdeu sua harmonia, está desmoronando. Daí a consequência é o surgimento de filosofias hedonistas, que passam a achar o sentido da existência no prazer sensitivo. O homem animalizado é o resultado da perda de esperança num sistema.
Isso demonstra que, caso a teoria esteja certa, a Modernidade já não garante certeza nenhuma. O homem perdeu esperança naqueles que o divinizavam. Agora, o que sobra é a irracionalidade, a busca da realização pessoal na sensibilidade, já que a razão não consegue encontrar certeza nenhuma.
Com isso compreendemos que a Modernidade já está dando seus últimos suspiros. Ainda bem.
“E já vai tarde!” como diz o bem humorado dito popular.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O dia santo de Tiradentes, o feriado da Sexta-feira da Paixão

Próximo de minha casa abriu uma lan-house, cujo dono é protestante. E dinheirista, como de costume.
Na Sexta-feira Santa, dia da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a lan-house abriu. Passei em frente dela quando estava voltando para casa das celebrações da Igreja: pela manhã, próximo do meio-dia, e à noite, lá por volta das 8 horas. Estava aberta - e sem nenhum usuário. Imagino que poucos teriam a coragem de ir a uma lan-house em plena Sexta-feira da Paixão. Por mais secularizado que esteja o mundo, resquícios de piedade ainda restam; um certo mal estar por frequentar locais de diversão e entretenimento numa data de respeito.
Mas hoje, dia de Tiradentes, data de feriado nacional, hoje, a lan-house estava fechada. Um feriado criado pela República, já que o Império odiada o revoltoso Tiradentes. A República precisava de heróis, e Tiradentes foi um dos seus primeiros.
Se perguntássemos ao protestante por que ele abriu sua lan-house em plena Sexta-feira santa, ele diria: "não precisamos ficar tristes na Sexta-feira Santa. Jesus ressuscitou e venceu a morte. Temos que ficar felizes. Não precisamos guardar esta data".
Mas se perguntássemos a ele porque ele não quis lucrar com seu estabelecimento no dia de Tiradentes, ele responderia: "hoje é feriado, é dia de descanso".
Poderíamos tirar duas verdades destas respostas hipotéticas. A primeira delas é que o homem já não tem mais noção do sagrado. O próprio Papa advertiu que não se guarda mais o domingo, que virou o dia santo do futebol. Ninguém mais sabe guardar o domingo; ninguém mais sabe o que é o domingo. É um dia sem sentido, feito para se descansar das festas feitas na sexta e no sábado. Sexta-feira Santa é dia de trabalho para alguns, que nela não vêem nenhum sentido, apenas um impedimento para aumentar os lucros, já que muitos comércios irão fechar. Trabalha-se na Sexta-feira Santa; e se descansa no dia de Tiradentes. O homem moderno centra o mundo em si mesmo. Para que algo tenha sentido, deve estar relacionado ao homem. Daí a dificuldade da modernidade em entender a moral. Muitos se perguntam: "mas se Deus nos quer felizes, por que ele não deixa que um homem casado se separe e case novamente?". A Modernidade só entende o que fala do homem. Só é bom o que é bom para o homem. Deus não pode pedir nada que seja trabalhoso ao homem. Bom é o que dá plena satisfação ao homem. É a negação do esforço, do trabalho e do sofrimento para Deus. O homem moderno quer evitar o sofrimento, e só sabe sofrer por si mesmo. É impensável que Deus nos exija certos sacrifícios. É a negação do pecado de Adão, que introduziu o sofrimento na terra, sofrimento este que o homem quer evitar ao construir o seu próprio Céu na terra: a Utopia, o reino do homem. No fundo, o mundo moderno retoma a filosofia epicurista, que via o prazer como o sentido da existência. Por isso, todo o esforço era maligno, um impedimento para o prazer. O homem se torna o centro de tudo, e não consegue ver sentido em nada daquilo que passa por cima de sua satisfação pessoal.
Se o homem moderno perdeu noção do sagrado, se ele não consegue mais entender o sentido das coisas espirituais, certamente não entende por que temos que guardar a Sexta-feira da Paixão. Guardar uma data para Deus é sinônimo de um dia a menos para o homem, ansioso por lucros e benefícios. Ou um bom descanso no feriado, ou um bom lucro no comércio que fica aberto. Mas é impensável, na mentalidade moderna, respeitar uma data por amor a Deus. O homem moderno só tem amor a si mesmo.
A segunda consideração que fazemos vem da doutrina protestante. Muitos protestantes abrem propositadamente seus comércios em dias santos, como uma forma de criticar a Igreja católica. Para eles, não é preciso guardar respeito pela Paixão de Cristo, já que Ele já ressuscitou e venceu a morte. Devemos ficar felizes.
Ora, esta afirmação é tão incoerente que só demonstra a má fé de muitas seitas protestantes. Muitos protestantes assistiram ao polêmico filme "Paixão de Cristo", de Mel Gibson. Muitos choraram durante o filme, por assistir ao sofrimento do Salvador na via do Calvário. Mel Gibson, que se diz católico, deve ter ficado surpreso ao saber que a maior defesa do seu filme vem por parte justamente dos protestantes.
Esses mesmos protestantes também guardam luto quando um parente morre. E, evidentemente, fecham o comércio, para acompanhar os funerais.
Pergunto eu: como podem ficar felizes com a morte de Cristo, se reconhecem que ela foi horrenda e dolorosa? Como podem ficar felizes com a morte de Cristo, sendo que ela só aconteceu em vista do pecado que entrou no mundo? E como podem encarar com tanta naturalidade a data da morte do Salvador se sabem guardar luto até com os parentes falecidos?
Essas perguntas não têm respostas. A resposta é uma só: ódio. Lutero ensinou o mais profundo ódio à Igreja de Cristo. Lutero odiou o papado e à Igreja até o fundo de sua alma. Os seus ensinamentos não vieram de uma firme convicção de que ele falava a verdade. São frutos do ódio à Igreja, que ele tanto incitou. Tudo o que Lutero fez foi ensinar o contrário do que a Igreja dizia. Mas não porque a Igreja estava errada; mas por ódio.
Os protestantes sabem muito bem acusar os católicos de idolatria por terem imagens religiosas nas igrejas e nas casas. Estampam largamente versículos pinçados da Bíblia - que eles mesmos nem sabem ler. Mas não percebem que as imagens existem por toda a parte, inclusive em casas protestantes.
Protestantes têm fotos, têm esculturas, têm pinturas, têm imagens religiosas. Eu já vi uma escultura de elefante num programa televisivo adventista...e logo eles, tão radicais! E já vi uma imagem da "Santa Ceia" em casa de luteranos.
Mas qual é o critério que faz com que um católico que tenha uma imagem seja idólatra, e um protestante não sofra das mesmas acusações? Simples: o argumento foi feito sob encomenda contra a Igreja. Ele não foi feito tendo em vista ensinar uma verdade. Era só para criticar a Igreja. Exclusivamente. Prova disso são os exemplos que citei, já que nem mesmo os protestantes obedecem o que ensinam.
O dono da lan-house pode não ter pensado nestas consequências do seu ato. Ele pode até não odiar a Igreja, como uma boa parte dos protestantes. Mas o seu ato é fruto do pensamento de Lutero: faça tudo que possa para se opôr à Igreja. Nem que para isso tenha que ser contraditório e falso.
E isso me faz lembrar uma frase do próprio reformador alemão: "Para enganar e subverter o papado julgamos que tudo nos é lícito" (De Wette, I, 478; apud FRANCA, Leonel, S.J. A Igreja, a reforma e a civilização, Rio de Janeiro: Agir, 1952, 6 ed, 200, nota 95).
O dia Santo tornou-se feriado, dia de descanso para o homem, ou mais um dia como outro qualquer. Mas o feriado tornou-se dia santo, para descansar.
O dia Santo é um dia inútil porque não traz acréscimo ao homem. Na Modernidade, tudo existe em função do homem. O feriado agora passa a ter serventia, pois não exige nenhuma obrigação, e justamente por isso é dia de descanso.
A religião do homem que quer se fazer Deus, o antropoteísmo, tem até feriado próprio.

Seria castigo?

Busca para localizar padre prossegue em SC e no PR

Esta foi uma das notícias mais estúpidas que eu já li. E talvez ela seja única. Até porque, agora, os padres urubus vão ficar mais precavidos se quiserem voar por aí.
Realmente, não se consegue entender qual o sentido de uma bobagem dessas. Um padre que quer bater record, e acaba batendo na própria inteligência quando se arrisca dessa forma.
O padre é sacerdote de Cristo, ordenado para dispensar os sacramentos aos fiéis, anunciar a Verdade e converter os infiéis. Só isso. Cristo nunca pediu vôos com balões de vinte horas.
São João Maria Vianney passava mais que vinte horas....no confessionário.
E São João Vianney é santo. Patrono dos padres. Inclusive do padre urubu, que fez um vôo rasante para o inferno, já que não cuidou da própria alma, preferindo perder seu tempo com uma insignificância dessas. E além de perder a alma, perderam contato com seu corpo, que pode ter virado comida para urubus - estes, sim, voam por necessidade.
A falta de consciência gera eventos como esse. Os quase dez anos que um padre passa num seminário, os anos que ele passa numa paróquia e todos os anos que ele usou para pensar em sua vocação...tudo isso em vão. Ele não aprendeu o que é ser padre. Aprendeu que não deve voar com chuva de balões...O padre que leva as almas para o Céu, quis ir para o Céu com o ar dos balões...e..... caiu.
Deus guia a História. Ele assiste todos os acontecimentos, e participa de todos eles, permitindo ou intervindo em tudo o que acontece.
Deus guiou a História quando deu a Noé a missão de construir uma arca para se salvar das tempestades do dilúvio. Deus feito carne - o Cristo - guiou a História quando acalmou a tempestade que agitava o barco dos apóstolos e os deixava amedrontados. Naquela ocasião, eles pediram: "Senhor, salva-nos!". E Cristo ordenou aos ventos para que parassem.
Mas quando as almas aflitas vão ao padre, ministro de Cristo, pedir a graça divina dos sacramentos, dizendo "Senhor, salvai-nos!", o padre é quem pedia salvação em meio às negras nuvens da noite.
Noite escura, sem a luz da Igreja, já que o padre não soube servi-la, preferindo voar...e depois pedir ajuda ao Corpo de Bombeiros...que trágico!
Os apóstolos gritavam por Cristo, Senhor da História.
O padre gritava ao Corpo de Bombeiros, pedindo ajuda sobre como usar o GPS...
Se não fosse trágico, seria cômico.
Deus age na História. E ele compensa cada um conforme as suas obras, já nesta vida ou na outra.
E que Ele tenha piedade da alma do padre, estando ele nesta vida, ou já na outra.