segunda-feira, 21 de abril de 2008

O dia santo de Tiradentes, o feriado da Sexta-feira da Paixão

Próximo de minha casa abriu uma lan-house, cujo dono é protestante. E dinheirista, como de costume.
Na Sexta-feira Santa, dia da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a lan-house abriu. Passei em frente dela quando estava voltando para casa das celebrações da Igreja: pela manhã, próximo do meio-dia, e à noite, lá por volta das 8 horas. Estava aberta - e sem nenhum usuário. Imagino que poucos teriam a coragem de ir a uma lan-house em plena Sexta-feira da Paixão. Por mais secularizado que esteja o mundo, resquícios de piedade ainda restam; um certo mal estar por frequentar locais de diversão e entretenimento numa data de respeito.
Mas hoje, dia de Tiradentes, data de feriado nacional, hoje, a lan-house estava fechada. Um feriado criado pela República, já que o Império odiada o revoltoso Tiradentes. A República precisava de heróis, e Tiradentes foi um dos seus primeiros.
Se perguntássemos ao protestante por que ele abriu sua lan-house em plena Sexta-feira santa, ele diria: "não precisamos ficar tristes na Sexta-feira Santa. Jesus ressuscitou e venceu a morte. Temos que ficar felizes. Não precisamos guardar esta data".
Mas se perguntássemos a ele porque ele não quis lucrar com seu estabelecimento no dia de Tiradentes, ele responderia: "hoje é feriado, é dia de descanso".
Poderíamos tirar duas verdades destas respostas hipotéticas. A primeira delas é que o homem já não tem mais noção do sagrado. O próprio Papa advertiu que não se guarda mais o domingo, que virou o dia santo do futebol. Ninguém mais sabe guardar o domingo; ninguém mais sabe o que é o domingo. É um dia sem sentido, feito para se descansar das festas feitas na sexta e no sábado. Sexta-feira Santa é dia de trabalho para alguns, que nela não vêem nenhum sentido, apenas um impedimento para aumentar os lucros, já que muitos comércios irão fechar. Trabalha-se na Sexta-feira Santa; e se descansa no dia de Tiradentes. O homem moderno centra o mundo em si mesmo. Para que algo tenha sentido, deve estar relacionado ao homem. Daí a dificuldade da modernidade em entender a moral. Muitos se perguntam: "mas se Deus nos quer felizes, por que ele não deixa que um homem casado se separe e case novamente?". A Modernidade só entende o que fala do homem. Só é bom o que é bom para o homem. Deus não pode pedir nada que seja trabalhoso ao homem. Bom é o que dá plena satisfação ao homem. É a negação do esforço, do trabalho e do sofrimento para Deus. O homem moderno quer evitar o sofrimento, e só sabe sofrer por si mesmo. É impensável que Deus nos exija certos sacrifícios. É a negação do pecado de Adão, que introduziu o sofrimento na terra, sofrimento este que o homem quer evitar ao construir o seu próprio Céu na terra: a Utopia, o reino do homem. No fundo, o mundo moderno retoma a filosofia epicurista, que via o prazer como o sentido da existência. Por isso, todo o esforço era maligno, um impedimento para o prazer. O homem se torna o centro de tudo, e não consegue ver sentido em nada daquilo que passa por cima de sua satisfação pessoal.
Se o homem moderno perdeu noção do sagrado, se ele não consegue mais entender o sentido das coisas espirituais, certamente não entende por que temos que guardar a Sexta-feira da Paixão. Guardar uma data para Deus é sinônimo de um dia a menos para o homem, ansioso por lucros e benefícios. Ou um bom descanso no feriado, ou um bom lucro no comércio que fica aberto. Mas é impensável, na mentalidade moderna, respeitar uma data por amor a Deus. O homem moderno só tem amor a si mesmo.
A segunda consideração que fazemos vem da doutrina protestante. Muitos protestantes abrem propositadamente seus comércios em dias santos, como uma forma de criticar a Igreja católica. Para eles, não é preciso guardar respeito pela Paixão de Cristo, já que Ele já ressuscitou e venceu a morte. Devemos ficar felizes.
Ora, esta afirmação é tão incoerente que só demonstra a má fé de muitas seitas protestantes. Muitos protestantes assistiram ao polêmico filme "Paixão de Cristo", de Mel Gibson. Muitos choraram durante o filme, por assistir ao sofrimento do Salvador na via do Calvário. Mel Gibson, que se diz católico, deve ter ficado surpreso ao saber que a maior defesa do seu filme vem por parte justamente dos protestantes.
Esses mesmos protestantes também guardam luto quando um parente morre. E, evidentemente, fecham o comércio, para acompanhar os funerais.
Pergunto eu: como podem ficar felizes com a morte de Cristo, se reconhecem que ela foi horrenda e dolorosa? Como podem ficar felizes com a morte de Cristo, sendo que ela só aconteceu em vista do pecado que entrou no mundo? E como podem encarar com tanta naturalidade a data da morte do Salvador se sabem guardar luto até com os parentes falecidos?
Essas perguntas não têm respostas. A resposta é uma só: ódio. Lutero ensinou o mais profundo ódio à Igreja de Cristo. Lutero odiou o papado e à Igreja até o fundo de sua alma. Os seus ensinamentos não vieram de uma firme convicção de que ele falava a verdade. São frutos do ódio à Igreja, que ele tanto incitou. Tudo o que Lutero fez foi ensinar o contrário do que a Igreja dizia. Mas não porque a Igreja estava errada; mas por ódio.
Os protestantes sabem muito bem acusar os católicos de idolatria por terem imagens religiosas nas igrejas e nas casas. Estampam largamente versículos pinçados da Bíblia - que eles mesmos nem sabem ler. Mas não percebem que as imagens existem por toda a parte, inclusive em casas protestantes.
Protestantes têm fotos, têm esculturas, têm pinturas, têm imagens religiosas. Eu já vi uma escultura de elefante num programa televisivo adventista...e logo eles, tão radicais! E já vi uma imagem da "Santa Ceia" em casa de luteranos.
Mas qual é o critério que faz com que um católico que tenha uma imagem seja idólatra, e um protestante não sofra das mesmas acusações? Simples: o argumento foi feito sob encomenda contra a Igreja. Ele não foi feito tendo em vista ensinar uma verdade. Era só para criticar a Igreja. Exclusivamente. Prova disso são os exemplos que citei, já que nem mesmo os protestantes obedecem o que ensinam.
O dono da lan-house pode não ter pensado nestas consequências do seu ato. Ele pode até não odiar a Igreja, como uma boa parte dos protestantes. Mas o seu ato é fruto do pensamento de Lutero: faça tudo que possa para se opôr à Igreja. Nem que para isso tenha que ser contraditório e falso.
E isso me faz lembrar uma frase do próprio reformador alemão: "Para enganar e subverter o papado julgamos que tudo nos é lícito" (De Wette, I, 478; apud FRANCA, Leonel, S.J. A Igreja, a reforma e a civilização, Rio de Janeiro: Agir, 1952, 6 ed, 200, nota 95).
O dia Santo tornou-se feriado, dia de descanso para o homem, ou mais um dia como outro qualquer. Mas o feriado tornou-se dia santo, para descansar.
O dia Santo é um dia inútil porque não traz acréscimo ao homem. Na Modernidade, tudo existe em função do homem. O feriado agora passa a ter serventia, pois não exige nenhuma obrigação, e justamente por isso é dia de descanso.
A religião do homem que quer se fazer Deus, o antropoteísmo, tem até feriado próprio.

Um comentário:

Unknown disse...

primeiramente parabéns pelo blog...esses tempos eu pensei em criar um pra mim, mas como sou muito sintético em minhas palavras, não iria sair textos contrutivos....

bah,pior mesmo aqui no Turvo que em pleno Corpus Christi os luteróides vão fazer uma festa... eles que vão trabalhar,ora! O feriado é Católico!